terça-feira, 16 de março de 2010

À perdedora, os louros...

Concursos de calouro são atrativos desde tempos imemoriais.
Sempre houve alguém querendo mostrar seus talentos e isto aconteceu, por exemplo, em Viena:
Johann Strauss, o filho, apesar da fama do pai, não conseguia participar das audições em teatros e palácios. Sua alternativa foi seguir o funcionário real do Palácio do Imperador, responsável pelas contratações, pelas ruas da capital austríaca, a bordo de um cabriolé puxado por cavalos velozes, equilibrando-se e tocando seu violino, como forma de convencer que tinha talento e não tinha oportunidade.

Com o advento do rádio, calouro passou a ser um estágio da vida de cantoras e cantores e radioatrizes e radioatores.

Recentemente a Inglaterra promoveu dois calouros, talentos ocultos, todavia brilhantes, ao limbo das estrelas.

O primeiro deles foi um vendedor de celulares que entrou no palco com um terno de trinta e cinco libras, aparentemente um número ou dois menores que ele. Talvez tivesse sido crismado muitos anos antes com aquela roupa.
Todos olharam para Paul Potts e seus dentes tortos com mais desconfiança que o povo olha político.
Cantando “Nessum Dorma” – ninguém durma - de Turandot, última ópera escrita por Puccini, derrubou os preconceitos que existem com pessoas meio destratadas pela beleza.
Assim como Calaf seduziu a princesa chinesa com seu desafio e venceu pela manhã, Potts se tornou figura conhecida e faz turnês pelo mundo e até mesmo apresentações em espetáculos concorridíssimos como o José Carreras Gala, em dezembro de 2009.

O ano seguinte nos trouxe à baila uma senhorita que, como diria meu amigo Fabinho, de tão atrapalhada na beleza, era melhor olhar para o outro lado da rua quando se pudesse divisá-la à frente do caminho.
Ao se apresentar no palco, Susan Boyle, escocesa de 38 anos e portadora de leve debilidade mental, resultante de um parto difícil, que afirmava nunca ter sido beijada, ouviu até mesmo um ensaio de vaias.
Sua música foi “I Dreamed a Dream” - eu sonhei um sonho – do musical Os Miseráveis, composta por Alain Boublil.
Viveu mesmo um sonho a partir de então.
Apesar do massacre psicológico que foi submetida pelo baixo clero da imprensa inglesa, Susan tem se saído bem em sua nova carreira.

E se Paul Ptts não era o favorito e venceu a final, com Susan ocorreu o contrário: assim como aconteceu naquela eleição presidencial norte-americana, houve problemas na contagem de votos e um conjunto de dança venceu o concurso.

A Natureza está se encarregando de consertar a injustiça: enquanto os vencedores – você lembra o nome deles? – fazem um pequeno sucesso no Reino Unido e algum sucesso nos Estados Unidos, Susan parte para mais uma turnê que prevê a possibilidade de sua apresentação no Brasil e outro país da América do Sul.


Aceitam um cappuccino?


Dedicado ao Maestro Umberto Urban e ao Coral da AABB São Paulo, talentos que enobrecem nossos ouvidos a cada audiência.

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