sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Algumas pessoas não mereceriam a senilidade.

Faleceu Tia Corina, a pessoa mais longeva que conheci.
Viveu 103 anos, a maioria deles de forma alegre.
Era a primogênita e, por isso, recebeu as benesses que a cultura do começo do século passado dava à primeira filha: aprendeu piano, tinha estudos mais sofisticados, abria as portas para o caminho dos irmãos mais novos.
Era ela que animava as festas dadas no salão da casa que já retratei neste blog.
Veio para o Brasil com 20 anos, aqui viveu 83 e não deixou o sotaque português nem por um segundo.
O namorado deixado em Portugal ainda tentou reatar o romance, mas não deu certo e ela permaneceu solteira até a morte.








aos 98 anos

Infelizmente a degeneração provocada pela senilidade a atingiu há alguns anos e, além de torná-la uma pessoa que vivia uma realidade diferente daqueles que a rodeavam, nos fez perder seu maior tesouro: os pastéis dominicais que nunca chegavam a esfriar e eram devorados por uma vasta legião de fãs.
Quando fez 100 anos dançou com todos os sobrinhos e, no dia seguinte, se queixou que estava com uma dorzinha nas pernas e não sabia o que tinha acontecido.










Com Mimi, Marilia e Américo e dançando com Roberto.

Ainda que fosse uma pessoa serena, não era mais responsável por seus atos e isto provocou um desgaste muito grande nas pessoas que conviviam com ela ao reescrever sua história de vida.
Foi mais uma pessoa alegre que deixou a vida em uma fase ruim.
Para mim que, longe dessa convivência desgastante, aproveitei os melhores anos e pastéis com essa adorável Tia, fica a saudade e o desejo que tenha, mesmo, um bom caminho para a Eternidade e o desfrute dos seus e do Deus em que ela sempre acreditou.

A benção tia, espero que, caso seja possível nos reencontrar desse lado, se possa fazer pastéis.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Duas matérias emblemáticas

Ao abrir uma página da internet no dia de hoje, vi duas matérias que me chamaram a atenção:
A morte do Harry Potter;
E a eterna luta dos nossos representantes no Legislativo e Executivo em descobrir caminhos que retire dinheiro do nosso bolso e coloque nos bolsos deles.

Começando pelo segundo assunto, deputados e senadores sempre aproveitam esses meses após eleições para tentar enfiar a faca em nossas finanças, com o uso da força dos votos dos reeleitos e do “salve-se quem puder” dos preteridos das urnas.
Acho que de salário o pessoal do Executivo recebe mal. Mas todos recebem benefícios exagerados, principalmente os legislativos.
Os Ministros de Estado estão recheando seus salários com participações em Conselhos de estatais, uma medida esdrúxula.
Faz-se necessário um estudo apurado cogitando aumento nos salários de Presidente, Governadores e Prefeitos, aos Juízes e Ministros do Supremo, mas também se faz necessária uma grande profilaxia, reduzindo benefícios de Senadores, Deputados e Vereadores.

Por falar em Lado Obscuro da História, a vitória das Trevas sobre Harry Potter me faz refletir, com tristeza, que o mundo está optando por um pragmatismo derrotista, ao invés do utópico vencedor.
Nas histórias e contos de antigamente sempre se tinha a expectativa que o Bem venceria o Mal.
No caso do pequeno mago, a morte de Harry Potter vai acontecer por dois motivos básicos:
- A autora Joanne K. Rowling havia planejado sete histórias com o maginho e não quer que haja seqüências feitas por aproveitadores desonestas, que pegariam uma carona com seu sucesso.
- O mesmo raciocínio se aplicaria ao Cinema e a série de filmes se encerrará no oitavo. Oito filmes para sete histórias? Sim, o último livro contém tanta informação que a história será desdobrada.

Por um lado será um alívio não assistirmos filmes como “Harry Potter em Nova Yorque” ou “Um americano em Hogwarts”.
Por outro, a magia do Pequeno derrotando o Grande, do Bem vencendo o Mal, estará perdida para toda uma geração que fez filas e mais filas a espera de uma nova aventura dos pequenos magos que, até o último capítulo, superou "aquele que não se diz o nome" com maestria.
Uma pena.

Aceitam um cappuccino?

Perdas e ganhos no esporte

Não sou daquele tipo que vice-campeonato não deve ser comemorado.
É lógico que fico muito chateado com a derrota na partida final de um torneio ou ao final de uma competição.
Mas logo passa e faço uma análise como, por exemplo, o que aconteceu no Mundial Feminino de Voleibol.
Todos acham que a Rússia jogou muito bem e eu também.
Mas não consigo deixar de pensar em dois detalhes que ressoam como um bumbo em minha cabeça:
- a fala do Presidente da Federação Internacional de Voleibol, dizendo que não era bom o domínio do Brasil no Vôlei masculino;
- em seguida, a escalação para apitar a final Brasil X Rússia do mesmo árbitro que já apitara dois jogos traumáticos para nós: as Olimpíadas de 2.004 e o Mundial de 2.006.
Esse senhor – ou esse canalha, como gostaria de chamá-lo – cometeu quatro erros durante a partida, os quatro contra o Brasil e dois deles em momento cruciais:
o primeiro no segundo set quando o Brasil, reagindo, havia feito três pontos seguidos, encostado em 13 a 11 e ele marcou fora uma bola que caiu dentro da quadra. O fiscal de linha foi contundente ao marcar a bola dentro. Não deu. A partida desandou e o Brasil perdeu o set.
Mas seu erro no quinto set, quando iríamos para 8 a 6 foi cruel. Deu para ver o desânimo estampado na face de nossas jogadoras.
Fez lembrar quando Wanderlei Cordeiro estava bem à frente na Maratona da Olimpíada da Grécia e foi agarrado por aquele débil mental britânico; ele até poderia ter sido alcançado pelos competidores que vinham atrás, mas todos tinham a certeza que com alguma vantagem ele criaria forças e não deixaria com que eles passassem.
Estou certo que com nossas jogadoras seria assim também: elas criariam forças.
Parabéns às meninas e parabéns ao José Roberto Guimarães. Formam um grupo vitorioso. Pensar que há 30 anos atrás nós nos esforçávamos muito e nem conseguíamos vencer o Peru.

Por outro lado, parece que houve uma felicidade geral na nação pela perda do título de Campeão da Fórmula 1 pelo espanhol Fernando Alonso.
Alonso estava engasgado na garganta de todos os brasileiros por ter roubado a vitória do Felipe Massa no Grande Premio da Turquia deste ano e, com o maior desplante, tentou induzir a equipe a uma frágil desculpa ao perguntar pelo rádio “o que houve com o Felipe, perdeu uma marcha?”.
Mais uma vigarice num esporte onde elas proliferam.
Aliás, só para rememorar, nos três últimos escândalos da Fórmula 1 o único fator comum foi a presença do Alonso:
Ele estava na McLaren, que não só recebeu informações privilegiadas de um engenheiro da Ferrari, como o espanhol se beneficiou - após uma sabotagem aos carros da escudeira italiana, que teve um pó misterioso colocado nos tanque de combustível nos carros de Massa e Kimi Räikkönen -ao vencer o Grande Prêmio do Monaco de 2.007.
Em 2.008 aconteceu o episódio de Cingapura, onde o espanhol afirmou - a la Lula - que não sabia de nada, enquanto Nelsinho Piquet acabou com sua carreira.
2.009 lhe foi um ano sabático em termo de falcatruas e em 2.010 já relatei acima.
Enfim, a justiça foi apreciável, divina.

Parabéns a Equipe Red Bull por ter mantido a competição acima de tudo. Se é que eles não sacanearam o carro do Marc Webber.

Aceitam um cappuccino?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ALEA JACT EST II

Minhas mais sinceras desculpas.
Meu irmão mais velho que é, muitas vezes, meu guru, acabou de me ligar dando uma grande gargalhada e perguntando se fugi das aulas de Latim.
Não fugi; não tive aulas de Latim. Minha geração foi a primeira a se livrar dessas aulas que eram o tormento dos alunos das gerações anteriores.
Perdoe-me também meu amigo Gilberto, pois certamente entendi erroneamente suas palavras; o desconsolo de César devia estar no fato de que não lhe restava senão a guerra e, eventualmente, o temor de sofrer um revés.
Assim, recebi uma aula pequena, mas de grande ajuda:
ALEA significa SORTE, no sentido de escolha. Daí, por exemplo, a palavra aleatória, que teria o sentido de escolha à sorte, ou a sorte escolheu aquela alternativa.
ALEA JACT EST literalmente significa “a sorte esta lançada” e vou parar por aí minhas explicações para evitar qualquer outra falha.

Esta minha presunção literata me fez lembrar minha querida Madre Felicidade Braga.
Da mesma forma que minha mãe e outras pessoas mais velhas, a Madre sempre tem um ditado a altura da situação que enfrentava. Neste caso ela certamente diria que eu seria “um Tiziu metido a Sabiá”. Nem Português sabe corretamente, vai pretender traduzir Latim.

Ainda bem que tenho meus corretores de plantão.
Então dedico esta crônica ao José Antonio, a Elisa, ao Rufino, ao Messias.

Sem eles eu entraria para aquela parte da Internet que publica coisas incorretas.

Aceitam um cappuccino?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Alea, jacta est.

Recentemente algumas pessoas contestaram essa vírgula que coloquei na frase de Júlio César, mas eu vou mantê-la assim por um entendimento do meu amigo Gilberto Bruce, que achava que o imperador mandava seus exércitos à frente por não ver alternativa de retorno.
Assim, algo desconsolado, teria dito: Vamos, (a sorte) está lançada.

Há alguns anos atrás Michael Schumaker disse que admirava a insistência de um determinado piloto brasileiro, perguntando-se aonde ele encontrava motivação para pilotar um carro que chegaria com certeza entre os últimos.
Duas coisas o piloto alemão não sabia:
Primeira: o que é ter o bolso cheio de dinheiro e poder comprar algumas coisas que por talento jamais se alcançaria;

Segunda: o que é ser brasileiro, povo acostumado pelos dirigentes, políticos e esportivos, a entrar numa competição para competir, não ganhar.
Nossa única e clara exceção esportiva está no voleibol.

Já na nossa natureza política, as últimas eleições me mostraram uma mudança clara naquilo que eu julgava algo pétreo: ou deixamos de ser desinteressados nas pobres benesses que recebemos ou deixamos de ser crentes na velha máxima bíblica: “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”.

Expressei várias vezes a minha desilusão desde que se apresentaram os candidatos à Presidência da República.
A alternativa da candidata do Partido Verde não foi a opção que o resultado do Primeiro Turno apontou. Assim como eu votei nela, tenho certeza que, além dos votos por identidade com a candidata, uma massa enorme de pessoas também votou para mostrar que era contra a polarização induzida da candidatura do PT (que expressava a bandalheira com dinheiro público de momento) e a candidatura do PSDB (que expressava a bandalheira do passado).
O mesmo fenômeno aconteceu na eleição passada com a Heloisa Helena, recordam?
Pois é, a Heloisa Helena sequer se elegeu senadora nesta eleição.

Vamos deixar claro: os dois partidos nos decepcionaram muito com relação ao trato da coisa pública.
Todos nos lembramos da frase “no limiar da irresponsabilidade” dita à época que as privatizações enriqueceram algumas figuras ligadas umbilicalmente ao Presidente FHC.
Se nós já achávamos que isso era ruim, nada superou a coleção de escândalos que envolveu o governo de um Partido que se proclamava arauto da correção e que demonstrou ser bem diferente quando geria a carteira de dinheiro público.

Foi muito divertido ver os dois candidatos se proclamarem amigos do verde, contra o aborto e adotarem toda a linha verde-evangélica da Marina Silva achando que as pessoas transfeririam seus votos para eles.

Mais interessante ainda foi ver que mais de cinco milhões de brasileiros preferiram as férias, o descanso e a abstenção pura e simples e somaram-se ao contingente histórico das abstenções, que chegaram a quase 29.200.000, recorde absoluto.
Somados aos votos nulos e brancos, a reprovação ou indiferença aos candidatos chegou a 26,75% do eleitorado.
Um em cada quatro brasileiros não sente afinidade com a eleita ou com o derrotado.

Mas agora a sorte está lançada e hoje já presenciamos a guerra por cargo entrar na ordem do dia com alguns desaforos sendo proferidos.

Da minha parte, penso firmemente em duas coisas:
Rezar pela saúde da Dilma, porque Deus nos livre do seu Vice;
E ficar vigilante e manter na memória uma frase de Léon Gieco gravada logo cedo por alguém consciente e querida:
“Só peço a Deus que a mentira não me seja indiferente, se um traidor pode mais que muitos, esses muitos não o esqueçam facilmente;”

Aceitam um cappuccino?