sábado, 31 de outubro de 2009

O buraco da Curruíra





Tempos atrás, na crônica “Minha Floresta”, contei sobre um rombo que meu pai abriu no muro para que a Curruíra lá construísse seu ninho.

Olha ela aí, se equilibrando para alimentar seus filhotes.

Está aí mais um legado do meu velho – que não gostava de ser chamado de velho – assimilado com carinho.
Ao olhar a dedicada mãe alimentando os seus, eu, sentado a dois metros, fui lembrando algumas situações vividas com papai.
Aqueles dias de casa nova, com um jardim que, ao ser regado, cheirava terra.
Pintar a casa, reformar o que for preciso.
Novos tempos, cabeça voltada para frente, olhos que não enxergavam o infinito.

Acredito que, com a vivência que tenho agora, consigo entender aqueles olhares longínquos do meu velho, sentado na varanda de sua casa, com o ar satisfeito de quem conquistara sua morada.
Imagino que entendo também seus momentos de silêncios e seu apego tardio ao acordeão.

O dever de arrumar o jardim encerrou meus devaneios. Ainda bem, a saudade começava a doer.
Foi uma semana movimentada, mas com muita alegria:
Grandes projetos para o novo ano, amigos de casa nova, aos quais desejo enormes felicidade;
Parabéns Marlene e Paulo, parabéns Afonso e todo o pessoal da Visual.


Aceitam um champagne?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Jasmim-do-cabo



A flor ao lado, cujo nome científico é Gardenia Jasminoides, assim teria sido batizada em homenagem ao naturalista escocês Alexandre Garden.
No mundo todo é chamada de gardênia, exceto em Portugal onde é nominada jasmim-do-cabo.
A princípio imaginei que portugueses tivessem se deixado levar pelo Jasminoides, mas como isso seria um erro grosseiro, fui fazer minhas pesquisas.

Descobri que todas as outras plantas denominadas jasmim pertencem a família Jasminum, nome derivado do persa Yasmim que significa, pasmem, Flor de Jasmim.
Naturalmente.
Existem mais de seiscentas diferentes plantas chamadas de Jasmim ou Jasmim e um complemento, como por exemplo:
Jasmim oficial ou verdadeiro, Jasmim-amarelo, Jasmim-mangá, -azul, -da-beirada, -da-virgínia, -de-veneza e por ai vai.

Mas jasmim é jasminum e gardênia não é.

Gardênia pertence à família das rubiáceas, ou seja, muito mais próxima do café do que dos jasmins.

Comecei a associar o que se passava com a expressão “Bodas de Crizo”, aquela ninguém sabe explicar o significado, e fiquei com mais uma dúvida na minha cabeça:
Quem terá sido o infeliz que deu o nome de Jasmim-do-Cabo para Gardênia?
“-DO-CABO” por quê?
Se a planta fosse originária da África do Sul, daí Cabo da Boa Esperança, teria alguma lógica.
Entretanto a flor é nativa da África tropical, acima das savanas.

De sopetão me veio à cabeça a música, clássica, composta por Rafael Hernández, “Perfume de Gardênia”, que começa assim:
“Perfume de gardenia, tiene tua boca, bellísimos destellos de luz em tu mirar”.
No meu sofrível Espanhol traduziria:
Perfume de gardênia tem tua boca, belíssimos brilhos de luz em teu olhar.

O romantismo da letra despertou a imaginação e me vi cantando essa música para minha mulher, romântico, de olhos semi-serrados, tentando seduzi-la:
Perfume de jasmim-do-cabo, tem tua boca....

E a Elisa respondendo:
- Que lindo querido...

Aí ela apaga a luz, vira de lado e diz:
- Boa noite.

Vamos combinar, nesse linguajar não dá mesmo para pintar um clima.


Aceitam um cappuccino?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O MAIOR PÉ FRIO DA HISTÓRIA BRASILEIRA.

Antes de entrar no assunto, só quero fazer uma nota:
Disseram que os Equatorianos e Uruguaios tinham pronta uma mala preta com 200.000 dólares para que os peruanos vencessem a Argentina.
Só esqueceram que em matéria de subornar peruanos os argentinos tem know how desde 1.978.

Agora vamos ao tema.

A Globo tem exclusividade nos jogos de futebol da Seleção Brasileira em território nacional:
Então temos que agüentar o Galvão Pé Frio Bueno em todas essas transmissões.
Vocês repararam como o Brasil empatou mediocremente na maioria dos jogos que aqui tivemos.
No último com duas bolas na trave!

Vocês se recordam que ele quis transmitir a final olímpica de basquete feminino no tempo da Hortência e Paula; como resultado o Brasil perdeu a final, assim como a final masculina de vôlei nas últimas Olimpíadas e aquele jogo do feminino que tínhamos 24 a 19 no quarto set e perdemos a partida para a Rússia.

Este ano quando ele não transmitiu a fórmula um, o Rubinho ganhou a corrida!

Agora a seleção sub20 estava indo muito bem, obrigado. Bastou o cara resolver transmitir a final e, mesmo com um jogador a mais por 60 minutos o Brasil não conseguiu fazer um golzinho só e ainda acabou perdendo nos pênaltis.

Se você torce pelo esporte nacional, peça a Deus que de uma rouquidão daquelas no homem antes de cada transmissão; aí talvez a gente volte a ser feliz.

Alguém tem um gelinho?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Como espantar morcegos

Se você estiver se referindo àqueles morcegos frugívoros (que se alimentam de frutas) eis uma dica que me asseguraram que funciona:
Pegue as bexigas (balões de ar para quem é de fora de São Paulo) que sobraram do aniversário das crianças e, cheias de ar, pendure nos lugares por onde esses asquerosos costumam voar. Aqueles que não enxergam muito bem, nesse ambiente seus sonares não conseguem uma boa resposta e, desnorteados, não conseguem se guiar por alí.
A dica foi dada por alguém que já usou o método num sítio e me assegurou que funciona.
Entretanto, caso não funcione, pelo menos tenha a certeza que o lugar vai ficar alegrinho e com cara de festa.

Não serve para os hematófagos do qual se deve manter grande distância.
Afinal, como dizia meu pai, em morcego não se pôe a mão nua nem depois de morto.

Ainda existem aqueles morcegos que vivem de secar os outros:
São aquelas pessoas que são capazes de torcer para um time argentino ganhe de um brasileiro que não seja o seu clube do coração.
Ou aos cronistas esportivos que torceram para a Argentina ficar fora das finais da Copa do Mundo e agora se dizem contentes por que los hermanos estarão lá.
Penso que até seria divertido vê-los de fora, mas não seria bom para o futebol da América do Sul e para o Brasil.
Precisamos de uma boa frente sulamericana para trazermos a vantagem do número de títulos mundias - hoje empatada em 9 a 9 - para nosso continente.
Os Europeus respeitam muito o nome dos selecionados que têm pela frente. Como todos nativos daquelas bandas, vivem do espectro da fama e dos títulos de nobreza.

Talvez por ter sua sede em Zurique, a FIFA tem critérios do Velho Mundo para classificarem seus afiliados:
Seleções da Europa tem peso 100 (valor integral) nos cálculos do ranking e as sul-americanas tem peso 95.
Malta vale mais que o Paraguai, assim como Ilhas Faroe, Andorra e Luxemburgo, o país.
Valem mais que o Brasil também!
Gostaria de ver qual seria o resultado de um jogo da Itália ou Inglaterra jogando com a Bolívia nos 3.660 metros de altitude de La Paz.
Sinceramente, num jogo entre o Cobreloa e o Chelsea no estádio dos chilenos, você fecharia os olhos e apostaria seu dinheiro nos europeus?
LDU e Milan em Quito, quem ganha? Ganha fácil?
Quando começa o Campeonato Espanhol, quem você imagina será o campeão no final do torneio? Tem dois times, Real e Barça. O resto é zebra que de vez em quando, oxigenada por atletas da America do Sul e até da África, podem incomodar um ano ou outro. Depois sucumbem.
É a mesma coisa na Itália, na Alemanha e qualquer outro país da Europa: o título ficará entre dois, no máximo três times.
No Brasil que hoje sobrevive sem os seus melhores jogadores jogando por aqui, temos hoje, há oito rodadas do encerramento do campeonato nacional, seis ou sete times com chances reais de serem campeões, ainda que no final o São Paulo vá levar o título de novo.

Bom, todavia se você também quer se ver livre desses outros tipos de asquerosos, tenho uma dica:
Mude de canal.


Aceitam um cappuccino?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Minha vigia

Escrevi outro dia que as contas da Copa 2014 e Olimpíadas 2016 precisariam ser vigiadas.
Já escalei minha vigia...



bom final de semana

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pena Mercedes...

Algumas pessoas famosas me fazem sentir como se fosse um irmãozinho menor, temporão.
Sinto-me como se as olhasse admirado, de baixo para cima, como uma criança que vê uma tia alta ou um tio grandão.

A vida em corpo físico de Mercedes Sosa deixa de existir, mas seu legado inestimável perdurará para sempre, principalmente para minha geração, acostumada a lutar pela liberdade durante nossos anos dourados.
Foi uma luta sem fronteiras e, o que acontecia aqui no Brasil ou no sul do Chile, em Buenos Aires ou Montevidéu, dizia respeito a toda gente.

Saúdo Mercedes Sosa que eternizou ainda mais a música “Gracias a la Vida” de Violeta Parra:
“Grato a vida, que me deu tanto, me deu duas estrelas que quando as abro distingo perfeitamente o preto e o branco”;

Que nos fez
voltar aos dezessete depois de viver um século é como decifrar sinais sem ser sábio competente, voltar a ser de repente tão frágil como um segundo, voltar a senti-se profundo, como um menino frente a Deus”;

Que nos agregou altos ensinamentos ao cantar fabulosa música de León Gieco, “Solo le pido a Dios”, da qual ressalto os versos:

Só peço a Deus que a dor não me seja indiferente, que a morte não me encontre vazio e só, sem ter feito o suficiente;
Só peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente, que não me batam, na outra face, depois que uma garra me arranhou a sorte;
Só peço a Deus que a guerra não me seja indiferente, ela é um monstro grande e pisa forte toda a pobre inocência das pessoas;
Só peço a Deus que o engano não me seja indiferente, se um traidor pode mais que muitos, esses muitos não o esqueçam facilmente;
Só peço a Deus que o futuro não me seja indiferente, desesperançado é quem tem que sujeitar a viver uma cultura diferente
.


Você jamais foi indiferente, Mercedes...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ao meu amigo Arnaldo Jordão.

Recebi do meu caro amigo Arnaldo Jordão este texto abaixo, a guisa de comentário sobre a crônica "Agora, para mim, só falta o Nobel".
Achei interessantes suas ponderações e contrapus meus comentários.
Forte abraço ao xará e a todos.

Prezado Onça,

Imagine o que daria pra se fazer com 25 BILHÕES DE REAIS que serão gastos para alguns dias de competição....

Quem ganhará?
Grandes redes de hotéis, intermediários nas negociações das obras, etc.etc.

Acho lindo e patriótico realizar uma competição desse nível em nossa terra, mas e a segurança? e a saúde? e a educação? e o saneamento básico/básico/básico/básico em grandes áreas do nordeste deste país?
Não me venha falar que é demagogia; não é.
É que não adianta pintar minha casa por fora pra ficar bonita, se dentro dela não tem comida!

Grandes potências mundiais (economicamente/socialmente) elegeram prioridades para se firmarem como tal e a maioria delas sofreram com algumas guerrinhas.

Acho que a escolha do Brasil como sede das Olimpíadas em 2016 é mais uma dose de "cala a boca" e vão sambar que "nóis" é "nóis"....

forte abraço
Arnaldo

Minha resposta:

Amigão Bom dia.

Primeiramente você é muito otimista em achar que serão gastos somente 25 bi. Os contratos iniciais no Brasil não são problemáticos; os problemas surgem nos aditivos.

Porém, acho que nós deveremos nos manter biblicamente atentos – orai e vigiai – às contas dessa Copa do Mundo e Olimpíada.

Muita gente não queria esses eventos, não por eles em si, porque sediar esses eventos é esportivamente importante e o aporte de recursos turísticos é monstruoso, mas com receio dos desvios tão costumeiros nas contas públicas brasileiras.

Por que Madri, Tóquio e Chicago queriam essas Olimpíadas? Não foram os únicos inscritos.

Querer esses Jogos e Copas é uma chance de fazer propaganda de sua cidade e atrair a indústria limpa do turismo, embora turistas normalmente sejam mais porcalhões que os locais.

Mas se investe em transporte, moradias, água, saneamento e, principalmente, capacitação dos empregados na área de turismo, do taxista ao recepcionista.

Nós temos que enfrentar esses governantes ladrões.

Temos que nos livrar desses Senadores da Comissão de Ética, desses senadores e governantes de "Comissões" não éticas.

Eles já nos tiram a felicidade e auto-estima de sermos corretos, eles nos roubam a dignidade; não podem nos roubar também as alegrias que os esportes nos trazem.

Aceita uma cachacinha?

domingo, 4 de outubro de 2009

Agora, para mim, só falta o Prêmio Nobel.

A escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas foi uma das maiores alegrias que eu tive na minha vida.
Uma vitória do bom planejamento, capitaneado pelo Presidente do COB Carlos Nuzman.
Parabéns ao Pelé, acima de tudo, por ter investido muito de seu carisma pessoal nessa empreitada.
Parabéns ao João Havelange, que muita gente aqui despreza, mas que tem muita influência nesse meio.
Parabéns ao Lula que trabalhou como não se via há muito e derrotou Obama.
Parabéns ao Rio de Janeiro que ganhou uma propaganda mundial por muitas horas. Certamente já desfrutará dos seus benefícios.
Parabéns aos cariocas que se mostraram solidários à sua cidade.

Uma vitória lançadora do Brasil no Mapa Mundi do COI, dando a impressão que, após todo esse vendaval financeiro que varreu o mundo e o nosso país conseguiu ficar com o nariz por cima da linha d’água, tenha servido de alerta à Humanidade que existe mais que pecado abaixo da linha do Equador.

Agora teremos grandes investimentos no Brasil todo por conta da Copa do Mundo e suas finais em 2.014.
O Rio de Janeiro terá efeitos prolongados por mais dois anos.
Fabuloso.

Nas minhas contas só falta ganharmos um Premio Nobel.
Na verdade já houve uma pessoa nascida no Brasil, Peter Medawar, que ganhou em 1.960 o destinado à Medicina. Por razões de foro íntimo ele resolveu receber como inglês. Tudo o que se fala a respeito não me interessa: ele não nos representava.

Na mesma Suécia onde se definem os vencedores da maioria dos prêmios – o Prêmio da Paz é definido pelo Parlamento da Noruega - criaram uma alternativa ao Nobel chamada "Prêmio da Sustentabilidade" em inglês Right Livelehood Award.
Criado em 1.980, teve vários brasileiros contemplados:
1.988 - José Lutzenberger - por suas atividades em prol do Meio Ambiente -
1.991 - Pastoral da Terra;
2.001 - Leonardo Boff;
2.006 - Chico Whitaker - pela vida dedicada ao trabalho pela Justiça Social e ao fortalecimento da Democracia.

É sempre bom ver brasileiros serem premiados.
Mas seria bom que as Academias e Parlamentos da Escandinávia abrisse seus olhos para o Brasil.
Houve quem dissesse que a Ditadura em 1.970 trabalhou junto ao Parlamento Norueguês para evitar que Dom Hélder Câmara fosse premiado. Não creio, eles desprezaram o Arcebispo de Olinda por quatro vezes. O Povo da Noruega não.
Seria bom que eles vissem que o Pelé, criticado por muitos, talvez seja o ser humano vivo que mais trabalhou pelos pobres do mundo todo e nossas criancinhas em particular.
Já perderam a chance com o Betinho e Jorge Amado, mas talvez ainda tenham tempo de corrigir sua falha com a Viviane Senna ou Zilda e Paulo Evaristo Arns.
Ou Paulo Coelho.


Vamos comemorar com um espumante do Vale do São Francisco?