domingo, 26 de janeiro de 2020

Não deixe para viajar depois, nunca



Tem gente que não liga para viagens, mas o sonho da maioria das pessoas é viajar.
Basta ver aquelas reportagens sem imaginação, quando a repórter pergunta na porta da lotérica o que a pessoa vai fazer se ganhar o prêmio acumulado.
Quase todas as respostas vêm com a frase “ajudar a família e viajar bastante”.

Dizia-me um amigo espírita que as pessoas querem viajar para visitar as terras aonde viveram outras encarnações. Se isto for verdade, já reencarnei no mundo todo.

Hoje vejo com tristeza meus limites diminuindo e isto tem pesado muito na minha alegria de viver.
Pedaços do mundo que já puderam ser visitados, hoje são um verdadeiro perigo à existência, seja por intolerância religiosa, seja por fatores climáticos.
Diga a verdade: é possível visitar o Líbano? Tem alguma graça visitar a Austrália depois desse desastre? Como fazer para ver o Exército de Terracota de Xian, com o Corona vírus a um vento de distância?
Dá para se sentir seguro visitando cidades da Europa, como a extremamente pacífica Ostrava, na República Tcheca, sabendo que, do nada, um maluco saiu esfaqueando pessoas.
Será que poderemos visitar Berlim ou Munique sem que algum fundamentalista invada a rua com um caminhão? Ou Barcelona?

Na primeira chance que tive na minha vida, visitei a Igreja da Penha, no Rio de Janeiro.
Apesar de uma antipática equipe da Globo estar lá gravando uma novela, consegui realizar o sonho de subir as escadarias sabendo que a favela ao lado estava “pacificada” e lá embaixo se via um caminhão com policiais exibindo fuzis. Sinceramente, dá para fazer o mesmo programa hoje?

Lembro quando levei minhas filhas para visitar a Disney, na década de 90. Um colega do Banco falou que gostaria de viajar comigo e, na última hora, ele precisou cancelar a viagem pois tinha sido promovido para uma gerência melhor que a que ocupava.  Concordamos em deixar para o ano seguinte. Três dias depois ele teve um enfarte fulminante na sua mesa de trabalho. Soube no dia seguinte e sai imediatamente para comprar o meu pacote.

Deveria ter pautado minha vida nessa experiência. Mas não; muitas coisas deixei para depois. Hoje vejo, com tristeza, que esse depois pode não chegar.
Dinheiro a gente corre atrás, carro se pode trocar em outro ano. Fronteiras, entretanto, podem ser fechadas sem aviso prévio. Fundamentalismo não tem como ser evitado e novos vírus estão aí sendo criados.

Então, três coisas não devem ser deixadas para depois nesta vida: amar, viajar e tomar seu cappuccino.