terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mais coisas que perdemos pelo caminho.

Há alguns anos atrás, após um banho, fui a uma concessionária de automóveis para fazer uma cotação visando trocar um carro.
A atendente, sorridente, se apresentou e foi solicita e gentil até que, de repente, comentou sarcástica:
“- Que cheiro de talquinho!”.
Não falei nada e ela, descontente, me cheirou de perto e comentou:
“- É você! Você usa talco! Que coisa de v....!”.
Se fosse meu amigo ZéBento provavelmente ela ouviria um turbilhão de desaforos bem mais contundente que o dela. Aliás, não só o Zé, muitos outros.
Entretanto eu, que não consegui absorver a ofensa, resolvi tirar todas as minhas dúvidas a respeito do carro e depois procurei outra concessionária e lá fiz a minha compra.
A propósito, ainda uso talco, principalmente nos vãos dos dedos dos pés.

Acho que estamos perdendo o polimento que se conseguia com berço, educação, estudo e sociabilidade.
Ser educado é coisa de burguês, uma palavra que ganhou muita antipatia no começo do século passado na Europa e chegou tardia, mui tardiamente nas Américas e ainda não foi descoberta em outros continentes onde mulheres tem serventia reprodutora e serviçal.

Há alguns anos atrás, Valkíria, uma amiga do meu caro Vita, se mudou para Salvador. Numa viagem de ônibus, entrou uma senhora idosa e o motorista, antes de dar a partida, virou-se para um garoto que estava sentado e disse imperativo:
“- Dá o lugar p’ra vó!”.
Simples assim.

Não consigo imaginar aonde chegaremos com essa situação de professores terem medo de alunos. Eu, que fui aluno de um professor de História e Matemática chamado Luiz Carlos, apelidado de Monstro da Lagoa Negra por uma aluna. Nós o chamávamos de Monstrão somente na informalidade, pois se alguém pensasse mais alto ofendê-lo na classe ou fora dela, fatalmente seria expulso da escola.
Num determinado dia minha classe resolveu zoar a professora de Música, matéria que não reprovava. Ela saiu chorando da classe e pouco depois o Monstrão entrou com passos firmes e deixou todos absolutamente calados.
Na sua próxima aula tivemos uma prova daquelas: tirei 2.
A partir de então, nossa professorinha foi tratada como uma princesa por todos os cafajestes da minha classe.

Dividir a conta é muito razoável; entretanto vejo que muitos amigos e amigas das diversas gerações com as quais convivo cada vez mais usam a prática do: “venha a nós do Vosso Reino e seja feita a Minha vontade”.
Explicando: RECEBER uma carona para casa, vários quilômetros do caminho normal do amigo, é legal; DAR uma carona para o amigo desviando um pouquinho do seu traçado habitual, só dividindo a gasolina.

Não se falava palavrões alto, em público. Aliás, não se falava alto.
Abrir portas, dar passagem, usar desodorante, ouvir, desdobrar e colocar o guardanapo no colo da companhia no jantar, saber quais são os copos e talheres que se usam em refeições não é frescura, e sim sapiência, finesa.

Vou tornar público uma frase que meu pai me disse antes de sair em Lua-de-mel:
“Seja carinhoso, sutil e constante; eu não sabia que deveria ser assim, mas a vida me ensinou isso e por isso eu passo esse conselho para você. Cuide bem dessa moça, pois você a esta tirando da casa do pai dela”.

Então, se me dão licença, vou preparar o cappuccino para minha amada. Aceitam um?