Acho incrível a pouca lucidez da maior parte da imprensa brasileira que persiste naquele complexo de inferioridade herdado pelos colonos "desse país" que, degredados, viam na Santa Terrinha as coisas boas e, deste lado dos mares, o inferno dos mosquitos e negros, como eram chamados os gentios, habitantes nativos do país, e também os escravos trazidos da África.
Precisamos de mais de 450 anos do marco colonatário português, precisamente 458, para perdermos o complexo de vira-latas.
Em sua crônica de 17 de julho de 1958, na Manchete Esportiva, o lúcido Nelson Rodrigues escrevia:
"O povo (brasileiro) já não se julga mais um vira-latas. Sim, amigos - o brasileiro tem de si mesmo uma nova imagem. Ele já se vê na generosa totalidade de suas imensas virtudes pessoais e humanas".
Havíamos vencido a Suécia em seu território e éramos Campeões Mundiais de Futebol.
Erámos os "melhores do mundo".
Hoje nossos telejornais, nossos jornais, nossas revistas, quase sem exceção, referem-se a coisas vindas dos Estados Unidos como "a maior do mundo", título que eles adoram se dar.
Apesar de tudo que fizeram os Beatles pelo Rock & Roll, os americanos dizem que o maior do mundo foi Elvis.
Referem-se ao Busho como o "homem mais poderoso do mundo", e ao cargo que ele ocupa com a mesma referência. Pergunto: Será que o George conseguiria que algum soldado deles se explodisse em nome da democracia americana como conseguem os aiatolás conseguem de seus seguidores? Fico imaginando ele pedindo isso a algum daqueles hispânicos que formam o exército americano. Qual seria a resposta? Fumou e tragou chefe! Ah! fumar e não tragar foi coisa do outro presidente.
São os melhores do mundo. Fazem um campeonato de beisebol entre times dos Estados Unidos (na maioria) e Canadá (dois ou três) e chamam de Campeonato Mundial!!!
Quando os judeus americanos ficaram sem espaço no Leste, foram para a Califórnia e fizeram Hollywood.
Para fazer concorrência aos celebrais filmes europeus resolveram criar um prêmio para dar a si mesmos.
Espertos!!!
Fizeram o tal do Oscar que dá prêmio para um montão de americanos e, solertes, UM prêmio para o resto do mundo.
Como posso ter respeito por esses eleitores que esnobaram Charles Chaplin, Fernanda Montenegro e todos aqueles que mais lá adiante eles premiam "pelo conjunto da obra", ou pelo conjunto de injustiças passadas.
Mas eles se intitulam "O prêmio mais importante do cinema" e nossos jornais repetem, como papagaios dotados de um cérebro sem capacidade de reflexão.
Pergunto: É mais importante porque premia aos americanos mesmos ou nós não somos capazes de discernir os vômitos que a CNN nos despeja?
De que adianta nossos jornais dispensarem tanto tempo com as eleições americanas? Não não podemos votar lá, onde a fraude eleitoral é uma realidade com a qual eles convivem.
Deveríamos mandar nossos senadores para acompanharem o processo e verificar se tudo foi feito com a devida democracia.
O cinema argentino tem produções excelentes, mas nós não vamos dar presentes para eles. Já chega o que a imprensa argentina fez nossos jornalistas de bobos na época em que aquele anão que jogavam muita bola para os argentinos era idolatrado por babacas que não conseguiam enxergar que Zico, Sócrates e Falcão, por exemplo, eram muito melhores e mais úteis dentro de campo do que ele.
Desprezamos o Festival de Berlim, que só foi manchete no Brasil quando Fernanda Montenegro e o Central do Brasil foram premiados.
Cannes é uma lembrança longínqua do qual só se extraem para nossos jornais as fotos dos peitos postiços das atrizes americanas.
Ainda bem que ficamos fora das indicações deste ano, senão teríamos que ficar acordados até de madrugada, dando audiência para os organizadores da festa dizerem que "Dois Bilhões de pessoas estariam assistindo a festa naquele momento". Depois disto ainda teríamos a tristeza de ficarmos fora da premiação, de novo, recalcando nosso espírito de vira-latas que nem mesmo o Diego Hipólito e Tiago Pereira seriam capazes de espantar.
No dia da transmissão da festa convide alguém que você ama, que você goste da companhia, e divirta-se. Coma uma pizza, tome um chope, um guaraná ou uma água com ou sem gás. Coloque seus assuntos em dia, sem se preocupar em boicotar a festa. Simplesmente faça alguma coisa por sua auto-estima. Tenha certeza, você vai se divertir muito mais.
Beijos,
Arnaldo, 22 de janeiro de 2008.