terça-feira, 17 de maio de 2011

Memórias

Estou lendo - e me deliciando - o livro Tetê-a-Tête, de Hazel Rowley, que conta detalhes da vida de Simone do Bourvoir e Jean Paul Sartre entre 1929 e o fim da vida de ambos.
A minha fascinação se deve aos relatos fiéis de passagens das vidas dos dois, registrados em milhares de cartas que se escreviam praticamente todos os dias.
Não era um fato isolado, algo deles dois, mais algo corriqueiro que praticavam com todas as pessoas com quem conviviam e vice-versa.
E eles davam um incrível valor às suas cartas a ponto da filha de Simone dar uma surra em uma das mulheres de Sartre e tomar as cartas dele que ela mantinha em seu poder, só para evitar que ela as queimasse.
Acima de tudo que já ouvira falar sobre o casal, pude ter uma real noção da relação no dia-a-dia de ambos e de sua crescente maturidade - os relatos começam na adolescência de Simone – e à filosofia de vida que adotaram, resultante da efervescência dos seus cérebros.
Não seríamos as pessoas livres que somos - pelo menos no tempo que fomos – sem esse casal fantástico.

Hoje, quando abro meu computador e quase todo dia visito a página da tal Rede Social, vejo um sem número de registros entre pessoas e amigos que, ainda que de maneira rudimentar, formariam nos nossos dias a mesma documentação das cartas de antigamente.
Amores que começam, amores que perduram, amores que estão em via de se findar.
Deboches cotidianos com nossos políticos, expectativas e alegrias e tristezas com o resultado do futebol.

Aí chega a minha questão:
Será que se guardássemos esses registros, poderíamos um dia também escrever nossas biografias? Ou alguém poderia fazê-lo? Seria interessante fazê-lo?
Reparo que muitos espalham fotografias, sempre portadoras de alegrias, até porque acho que ninguém tira fotos quando está triste.
Fotos de viagem, aniversários, encontros.
As fotografias são nosso refúgio para onde corremos quando precisamos recarregar nossas alegrias. São também os registros de nossas felicidades, seja na festa de aniversário, seja nas ruas de Santiago do Chile.
Espalhamos isso por aí.

Será que poderíamos criar uma nova rede social, onde faríamos de forma permanente o registro escrito e fotográfico - e até mesmo filmes e vídeos - de nossos relacionamentos com o mundo que nos cerca?
Fica aí, pois, a sugestão; afinal, pelo menos para aqueles que nos cercam, somos História e participamos de sua História.

Enquanto isso, aceitam um cappuccino.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

De mal com a UNICEF

Não que seja grande coisa o que faço para a UNICEF todo ano, mas tenho tido o hábito anual de fazer uma compra de produtos do catálogo natalino dessa organização há alguns anos, além de uma pequena contribuição para o Criança Esperança, com a finalidade de colaborar para o programa de combate a pobreza.
Do Papa Bento XVI à Enfermeira da Jamaica, todos estão cientes que o ralo das necessidades supera em muito o gotejamento do dinheiro caridoso.
Dia desses conversava com um amigo sobre a pobreza e a miséria no mundo e ficamos abismados com a situação que se encontram pessoas de diversos países onde não poderíamos imaginar a existência de indigentes, e a única vantagem desses lugares é uma inexistência de linha de corrupção, ou quando existe tem um resultado esperado para quem a pratica: cadeia.
Como no Brasil a cadeia tem assentos reservados, pessoalmente tenho a firme convicção de só contribuir para entidades sérias e, de preferência, que eu conheça o caminho todo do dinheiro, princípio, meio e fins.
Esse meu comportamento pode passar além da Taprobana do cinismo, mas cansei de ver contribuição dada para uma determinada necessidade virar cerveja em festa de confraternização de funcionários e dirigentes como se fosse algo para lá de natural.
É por aí que passa meu muxoxo com a UNICEF:
Tenho recebido, há pelo menos dois anos, um monte de impressos, uma agendinha e um famigerado “relatório anual”, com uma foto da representante da UNICEF no Brasil, senhora Marie-Pierre Poirier, estampada na primeira página.
Desculpem, mas para mim isso é intolerável.
Acho extremamente errado essa personalização que só pode ter caráter político ou projeção pessoal, ambas as atitudes errada e inadequadas nesse caso.
Estamos em plena era da informática e o tal relatório pode ser conseguido pelo e-mail brasília@unicef.org.
Não preciso ver o rosto da Sra. Marie para saber se as coisas estão andando de acordo com o esperado.
Quem convive em entidades sabe que um dos maiores custos de suas atividades é a postagem de correspondência, e sabe também que muito pouca gente abre essas cartas, principalmente se imaginar que ali vem um pedido de dinheiro e ainda estiver sobrando mês para o salário.
Não é possível que o que aprendi na faculdade há trinta anos atrás, que a mala-direta dá um retorno inferior a três por cento, tenha mudado em alguma coisa.
Assim, vou me recolher na minha rabugice e dirigir minha contribuição para outra entidade este ano, e só volto a contribuir com a UNICEF quando deixar de receber essas bobagens.

Todavia continuo apreciando um cappuccino. Aceitam?