segunda-feira, 25 de maio de 2009

Novo "apartheid", agora no Brasil.

Vidas separadas. Esse é o significado da palavra apartheid.
Foi assim que o mundo teve notícias de como chamaria o novo estilo de convivência entre brancos e não brancos na África do Sul em 1948.
Essa idiotice sobreviveu por 42 anos e mantém miseravelmente na memória que quem viveu e sobreviveu essa besteira a tristeza e cicatrizes sociais que, com muito custo, poderão ser apagadas em mais algumas décadas.
Percebe-se o vivo preconceito em olhares e atitudes pelas ruas, bares, restaurantes e qualquer local onde se convivam pessoas de tribos e raças diferentes. Sim, existe um forte preconceito tribal na África do Sul apesar de todo o sacrossanto trabalho de Mandela e sua turma.
Eu, menino, sempre me vangloriei de viver em um país sem preconceitos.
Depois fui me deparando com uma ou outra situação meio turva, digamos. Sempre que havia alguma coisa a respeito era meio velada.
Nessa hora fui me consultar com quem deveria: Meu pai e minha mãe me ensinaram que o racista é uma pessoa inferior, que projeta em outro ser humano, diferente de suas características, as fraquezas e impotências que tem dentro de si e não é capaz de conviver ou superá-las. Coisa de gente ignorante que ficou rica de uma hora para outra. “Tizius metidos a sabiás” nas palavras de mamãe que sempre tinha um ditado à boca.
Nasci em uma casa que tinha uma negra que nela trabalhava e lá teve três filhos com os quais aprendi a conviver como se fossem meus irmãos de sangue. Quando o mais velho dessas crianças pediu a benção do meu pai, no seu leito de morte, a sua resposta do meu velho foi: "Deus te abençoe meu filho".
Quando esse menino morreu senti uma das maiores tristezas da minha vida, e se é possível aos mortos ver a alma dos vivos ele muito bem sabe disso.
Tive na minha juventude – e na minha vida – meus dois melhores amigos, ambos negros.
Um, Percival, infelizmente morreu muito cedo e outro Julião, se mudou para Ribeirão Preto só por que a mulher dele quis ir para lá.
Mulheres...
Foram duas amizades de sentimento. Eu não precisava, precisei ou preciso dizer que sou amigo dessas pessoas por que a energia que viveu e vive entre nós diz isso por si só.
Nunca mencionei a diferença de cores ou raça em qualquer ocasião – a não ser agora - por que isso nunca me passou pela cabeça, em tempo algum.
E olhe que houve muita gente que veio me dar esse recado e soberanamente ignorei.
Na minha rua de garoto tinha um japonês, o Pardal, que era relojoeiro e casado com uma negra maior que ele. O que chamava a atenção da gente não foi a diferença de raças deles e sim o fato da mulher ser mais alta que o homem, coisa incomum então.
Tive uma namorada nissei, uma negra, uma índia e vou mudar de assunto porque minha mulher vai ler esta crônica e eu não quero aborrecimentos.
Há tempos, num hotel de “bandeira americana” no Rio de Janeiro, houve um problema com um segurança negro ao não querer permitir que entrasse no hotel uma mulata, mulher de um executivo estrangeiro que lá estava hospedada, dizendo que não era permitida a entrada de “garotas de programa”. Assim como eu, o país todo se indignou e se revoltou com o fato. Nessa mesma semana fomos a Curitiba, a Elisa, as meninas e eu, para assistir a apresentação de natal daquelas crianças nas janelas do prédio de um Banco e ouvia, atrás de nós, um casal comentar: “amor, que lindo”, “olha benzinho” e por aí vai. Tudo com um forte sotaque sulista. Ao acabar a festa me virei para caminhar até o hotel e reparei que o casal era formado por uma negra, bem negra, muito bonita, de cabelos afro, enormes, e um cara mais branquelo que eu. Adorei ainda mais a minha gente e vi que os idiotas por aqui são poucos, graças a Deus.
Narrei isto tudo por que está tramitando no Congresso uma bobagem que vai institucionalizar diferenças raciais no Brasil. Cotas raciais para tudo quanto é situação: cotas para isso, cotas para aquilo, criando claramente uma cisão em todos os locais de trabalho e até mesmo – pasmem - no atendimento do SUS.
Será a semente da cizânia para que pessoas que trabalham num lugar se referirem aos colegas como “normais” ou “de cotas”.
E também um tapa na cara daqueles que, nascidos pobres e não brancos, que tenham conseguido se formar e arrumar uma boa condição social, bom emprego, passem a ser discriminados pelo resto da vida como “cotistas”.
Além do mais, será uma lei que caducará em breve: o Brasil que hoje tem declarados cinquenta por cento de brancos e o mesmo tanto de não brancos. Ou seja, em breve os brancos serão minoria.
E esse decreto vem para proteger minorias num país que até mesmo associações de proteção a “pessoas com necessidades especiais” não contrata aqueles que deveria proteger com a desculpa de “falta de capacitação” dos PNEs!
Sim, será o primeiro passo para a sociedade de castas que martiriza a Índia até nossos dias.
O passo seguinte será a criação de cotas específicas para setores específicos.
Assim, em breve as empresas terão que criar cotas para “baixinhos”; times de vôlei serão obrigados a ter cinco por cento de pessoas com até um metro e meio.
Outra atitude será a contratação de atores “feios” para papéis de mocinho, ou “gente bonita”.
Por que ao invés de criar cotas em faculdades, o governo não melhora os salários e ensino nas escolas públicas?
Por que ao invés de criar cotas em empregos, não se criam possibilidades de formação e empregos, aqueles dez ou doze milhões que foram prometidos em campanha eleitoral?
Será que nenhum dos meus amigos brancos que estão lendo estas linhas tem filhos desempregados no momento, mesmo aqueles que estudaram em escolas particulares?
Será, em sã consciência, que se espera acabar com a desigualdade social com “bolsa família” e decretos?
Pobres e minorias não querem esmolas, querem condições.
Foi do meu amigo Percival que ouvi pela primeira vez a frase abaixo e a cada dia mais concordo com ele:
“O PROBLEMA DE NOSSOS POLÍTICOS É A INSISTÊNCIA DE FAZER NA VIDA PÚBLICA O QUE FAZEM NA PRIVADA”.
Acho melhor os deputados voltarem a criar homenagens para dia disso, dia daquilo. É menos perigoso para o país.

Só mesmo tomando uma...

Monica, ainda não consegui fotografar a cambacica. Ela é muito ligeira, parece um bem-te-vi, só que do tamanho de uma curruíra.
Mas assim que conseguir, publico.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O ninho da cambacica


É incrível como essas datas que vivemos com muita alegria em algumas épocas podem se transformar em uma fonte de saudade e melancolia em outras.
Dia das mães, dos pais, são datas muito boas de se comemorar enquanto eles estão vivos.
Quando estão ausentes as coisas às vezes se complicam.
Faz mais de uma semana que sonho quase todo dia com meus pais, principalmente minha mãe.
Na noite anterior ao dia das mães sonhei que lhe entregava um ramo de flores e ela ralhava comigo para não gastar dinheiro com ela, mais ou menos da mesma forma como faço com minhas filhas quando me presenteiam.
“Quero viver e conviver com vocês e não presentes” é a frase que inutilmente repito, pois elas sempre arranjam uma lembrancinha.
É muito incrível esta relação de ter um porto seguro onde parar e perguntar: "E agora, para onde vou?"
Imaginei que sob todos estes cabelos brancos eu não teria ma dúvidas na minha vida, mas não é o que acontece.
Por mais que a alma esteja bem cuidada e o coração limpo, o mar de quando em quando fica revolto e mesmo se portando como o velho marinheiro cantado pelo Paulinho da Viola, me sinto preocupado em não errar.
Filosofava ontem sentado no quintal de casa tomando sol e perguntando esses porquês todos quando passou por mim a cambacica. Ia se alimentar das flores doces da dracena e o fez sem perguntar por quê.
Cumpriu o ritual da natureza e foi de galho em galho seguindo o instinto ou o aroma, saltitante como uma garota apaixonada.
Depois pousou num galho do Fícus onde fez seu ninho e, tomando cuidado para ver se não era notada e lá entrou por algum tempo.
Não sei dizer em que pensei enquanto a observava, nem por quanto tempo foi.
Também não vi quando saiu de lá, pois cochilei com o vazio dos pensamentos.
Algumas gotas de chuva me mandaram para dentro de casa, procurando abrigo assim como a cambacica.
Fui cuidar de alguns papéis para não dar tempo à melancolia.
Sem dúvida, o domingo não foi feito para ficarmos sós.












Welcome Darren, be back soon.

domingo, 3 de maio de 2009

Comportamento de manada

Ando muito abismado com o que é feito com a Humanidade nos dias de hoje.
É certo que não sei como era, veridicamente, em tempos idos. Sei o que contaram os historiadores dos vencedores.
Todavia, hoje em dia as coisas são rápidas o suficiente para sufocar a capacidade de pensamento sóbrio e lógico das pessoas, transformando-as em uma massa com raciocínio inferior a um bando de gnus fugindo de leões; os primeiros fogem de imaginários; os segundos, de leões reais.
Gnus correm de forma aleatória para despistar seus predadores.
Os humanos fogem de forma irracional, enchendo os bolsos de espertinhos ou os egos de oportunistas.
Rio e fico imaginando a satisfação desses espíritos de porco que vivem querendo apavorar pessoas.
Ou a alegria dos chefes de pauta que tem assunto para preencher jornais, radiojornais ou telejornais.
Eles nos passam a impressão que há um vírus do lado de fora da porta de casa aguardando nossa saída para infectar-nos de forma definitiva.
Minha felicidade está nos grotões de sanidade, alguns dos quais eu convivo. Recebi um e-mail muito lúcido do meu amigo Adelmo que desmistificou, com sabedoria, essa crise.
Há muitos anos atrás eu usei uma máscara que efetivamente filtrava o ar para evitar crises asmáticas e as pessoas me perguntavam se era por causa do Michael Jackson que eu estava usando a proteção. Sempre soube que essa máscara que todo mundo está usando só serve para evitar que o doente contagie o sadio, e não o inverso. Mas teve gente que acabou com o estoque das máscaras em farmácia, por conta do egoísmo e falsa proteção.
Vocês se recordam da crise da febre amarela no interior do país? E daquelas pessoas que tomaram a vacina duas, três vezes, sem pensar nos vizinhos para quem sua dose dupla ou tripla poderia fazer falta. Quando um desses ignorantes morreu, muitos ficaram apavorados ao ver que seu umbigo estava ameaçado por sua falta de solidariedade.
Vocês recordam quando os jovens não podiam mais andar de tênis novos ou de cabelos compridos?
Faz tempo que isso aconteceu?
E esta última crise financeira mundial? Foi a coisa mais louca que eu já presenciei na minha vida toda.
Empobreceu muita gente, mas será que empobreceu todo mundo?
Pois é, daí começam a surgir “As teorias da Conspiração” por que o campo, definitivamente, é farto.

Finalizo contando um caso para vocês e vou deixar por sua conta imaginar a cena por completo.
Minha mulher chegou com o nariz tapado, febre e dores no corpo inteiro a um Pronto Socorro, no sábado passado. Era uma crise de sinusite.
Imaginem o que aconteceu quando olharam para o agasalho dela e leram: HARD ROCK CAFÉ, "CANCUN"

Aceitam um lingüiça?