quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Brasileiro é um gozador; isto é bom, isto é mau...


Lembro de uma conversa do meu compadre Roberto sobre uma palestra dada aos gerentes do Banco do Brasil no exterior: “O brasileiro tem mania de contar uma piadinha para descontrair o ambiente e os empresários estrangeiros acham isso um horror”.
Realmente existem algumas coisas que são efetivamente horrorosas em alguns dos nossos hábitos; a falta de simancol é uma delas.
O primeiro péssimo hábito em minha opinião é aquele de dar apelidos às pessoas que mal conhecem. Essa mania tem coisas de extremo mau gosto como, por exemplo, o pessoal de Mairinque, onde morei, chamar um rapaz acometido de poliomielite de “Pé de Anjo”.
Outra ocasião bastante comum desses ataques acontece em viagens; não sei se porque o pessoal julga a convivência no passeio algo muito efêmero, um engraçadinho - o “mala” do grupo – está sempre pronto a colocar apelidos: é Bolinha para os obesos, Vovô para gente que tem os cabelos da cor do meu – isto, todavia, ainda não aconteceu comigo - Elebê para a loira do grupo, e por aí segue. E na maioria das vezes esses chatos se apegam a defeitos físicos para azucrinar os próximos. Tinha um desses numa viagem que fiz para Caravelas. Encheu todo mundo até que perdi a paciência e o chamei de “Mãozinha”, numa referência a problemas que ele tinha nos dedos. Não me senti bem, mas pelo menos ele não fez mais passeios conosco.

Outra forma popular de se divertir está ligada a duas deficiências básicas do Brasil:
A cultura elitizada de poucos e a falta de cultura do populacho.
Quando aprendi minhas primeiras palavras em Inglês, comentei com meu pai que seria divertido disparar algumas frases no novo idioma perto de caipiras, para confundi-los.
“ - Não é vantagem nenhuma falar inglês com quem sequer sabe falar português” respondeu papai. Foi tão imediata, mas tão imediata a resposta, que refleti sobre aquilo e mudei meus conceitos logo aos treze anos.

Não existe vantagem sobre outras pessoas em se adquirir conhecimento e sim em compartilhá-lo, essa é a questão.

Agora, a bola da vez é debochar do Joel Santana por suas tentativas de se explicar em inglês em um país onde essa é uma das Línguas Oficiais. Vale lembrar que o mundo todo, menos a França, também fez do inglês sua língua corrente.
Minhas perguntas são:
Será que essas pessoas que riem do técnico têm um inglês assim bom, a ponto de se julgarem superiores?
Será que eles se expressam sem aquele friozinho na barriga?
Joel Santana falando inglês é uma piada?
Vae lembrar que Joel foi treinador em países árabes e no Japão por vários anos e lá certamente não teve necessidade de aprender qualquer um desses idiomas. Começou, mesmo, a aprender inglês há onze, doze meses, aos 59 anos de idade, num país onde o sotaque é acentuadíssimo, muito diferente do que nossos ouvidos estão acostumados e até mais próximo daquilo que ouvimos na entrevista dele.
E as pessoas esquecem que Joel Santana foi o único treinador a ser campeão carioca pelos quatro times chamados grandes, se ainda podemos chamar o Vasco de grande e achar que vencer o campeonato carioca seja algo tão esplêndido assim. Entretanto, aconteceu com ele.

Fica ainda outra questão:
Vocês já ouviram o Rafael Nadal ou o Sérgio Garcia falando inglês? Ou o Tiger Woods falar outra coisa que não sua língua nativa? Por que será que ninguém debocha deles?
Quem entendia o que falava o Tevez?

Tenho só mais uma pergunta:
Por que as audiências brasileiras vibram tanto - sem deboche - quando um desses artistas internacionais vem fazer suas turnês por aqui e conseguem mal e mal dizer: “Obrigada”? Serão eles deuses encarnados?

Ser gaiato também tem seu lado bom, mas isso vai ser contado em outra crônica.

May I offer you a cup of tea?

Oferecido à memória de Neda Soltani e àqueles que lutam e lutaram por Liberdade.
Também ofereço à minha querida Cecília por seu aniversário dia 23.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Maravilhas da vida moderna

Antes de mais nada devo confessar que adoro compartilhar mensagens que trazem decalcomanias e propagandas como, por exemplo, Drops Dulcora, DKW ou Biotônico Fontoura. São muito alegres e com elas reavivamos nossas lembranças.
Dia desses, porém, recebi uma mensagem mais que saudosista, onde o autor declarava que os velhos tempos é que eram bons e lançava alguns desafios aos jovens, julgando-os incapazes de viver a felicidade tal qual os antigos faziam.
Não gosto nada dessas coisas, pois os jovens, que já tem um monte de problemas com falta de emprego, violência, afetivos, ainda ficam com um magoado lhes buzinando uma mensagem subliminar que diz, literalmente, que são incapazes e infelizes.

Pois bem, eu vou recordar algumas coisas que eu vivi.
Pasmem, mas me recordo plenamente da minha casa e do sítio do Tio Rocha iluminados em diversas ocasiões com lampiões de querosene e lamparinas a óleo que enchiam a casa com uma negra fuligem. Ao acordar, tínhamos uma sujeira negra nas narinas e brincávamos que eram bigodes.

Andei e tomei chuva num bonde que era aberto de um dos lados. Muita gente me garante que esse tipo de bonde não existia, que era aberto dos dois lados e que, na verdade, eu teria andado no bonde camarão, assim chamado porque era vermelho. Minha memória das coisas de infância é extremamente mais solida que minha memória de hoje em dia. Lembro da chuva que caía na antiga e hoje inexistente Praça Clóvis Bevilácqua.
Querem saber, prefiro o metrô, sequinho.
Recordo ainda uma visita que fiz à minha avó, em Candido Mota, quando tinha cinco anos. Para tomar banho foi necessário aquecer a água numa caneca no fogão à lenha, colocá-la no balde com uma pequena corrente que abria e fechava a torneira colocada na parte de baixo e desembocava em um chuveirinho.
Este ritual acontecia porque a grande facilidade da casa estava com problemas. A água descia por gravidade da caixa principal, passava num cano por trás do fogão e, aquecida, subia até a uma pequena caixa d’água com ligações para o balde/chuveiro e uma torneira que havia na cozinha e era usada para ajudar a desengordurar a louça.
No segundo dia da viagem minhas aventuras ao banho terminaram em parte, já que meu pai desentupiu o encanamento e não necessitava mais aquecer a água na caneca.

Querem saber, prefiro os chuveiros de hoje em dia, muito mais práticos e nos proporcionam banhos longos quando a cabeça necessita se recuperar de alguma tristeza.

Era morador do subúrbio do Chora Menino e nossa rua não era pavimentada. A cada chuva - e chovia quase todo dia - necessitava levar os sapatos limpos em um saco plástico – que não era fácil conseguir – para trocá-los quando chegávamos aos paralelepípedos da Alameda e os sapatos cheios de barro, precariamente limpos, eram guardados na sacola até a volta. As pessoas pediam o dono do bar na ponta da rua para lá deixarem os sapatos até a volta dos compromissos. Lá ficavam, às dúzias, sem cobrança, sem queixas; era gentileza mesmo.

Querem saber, não tenho saudades dos bons tempos enlameados da minha rua.

Também o Correio não chegava até nossa casa e nossas cartas eram mandadas para a casa de uma tia que vivia perto do quartel do CPOR. Era essa tia que também recepcionava as mensagens urgentes porque não tínhamos telefones na nossa rua. Quando os correios e as linhas telefônicas chegaram à nossa casa, foi uma festa. A Caixa de Correspondência passou a ser um item de destaque nobremente alojada ao lado dos portões.
Já o aparelho telefônico foi colocado em um ponto nobre, central, acessível e visível a todos, nativos e visitas. Facilitava o acesso, mas era péssimo para se namorar.

Querem saber, também não tenho saudades dos bons tempos em que não podia dizer coisas maliciosas para minhas amigas e obscenas para meus inimigos.

Uma modernidade, entretanto, resolvi aposentar por plena incompatibilidade: meu corretor automático de texto. Fica me enchendo a paciência com coisas do tipo:
“Uma modernidade, entretanto, resolveu aposentar” ou “Umas modernidades, entretanto, resolveram aposentar”;
E também:
“e-mail é neologismo inadequado. Altere a expressão para mensagem ou texto”;

Ou ainda
“esta frase contem 55 palavras. Deveria conter 50.”;
Pergunto quem definiu que uma frase deve conter menos de 51 palavras? Bill Gates?

Propõe correções absurdas ou deixa de fazê-las, como a que aconteceu na minha última crônica, alterada graças à ajuda providencial dos meus amigos Rufino e Lauro, além de outros comentários posteriores: Num determinado parágrafo ao invés de “referirem” apareceu “refirão”. Se fosse “refiram” seria um erro de concordância meu; mas não.
Confesso minha falha ao transferir o texto do Word para o Blog sem corrigi-lo detidamente.
E Rufino, assumo que também errei na grafia da palavra discriminar.

Querem saber, acho que vou ficar sem essa modernidade.
Ah! Que saudade dos bons tempos da correção com o lápis vermelho.



Aceitam uma Cuba Libre?

Dedicada aos amigos Rufino e Lauro, e também ao Maurinho, por seus 20 anos.

fotos da Cambacica, afinal

Hoje resolvi fazer um plantão com a máqina pronta ao lado da árvore onde ela vem tomar seu néctar.

Só não me perguntem se é o macho o a fêmea.