quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Por favor, não votem nesta mulher.

Além do enojante horário eleitoral “gratuito” brasileiro que nos é imposto a cada dois anos, de quatro em quatro anos somos obrigados a agüentar também o horário eleitoral norte-americano, imposto pela imprensa nacional que, por falta do que noticiar neste país sem fatos, acredita que é muito importante para nós sabermos o que pensam os candidatos americanos.
Meu avô, seu avô e o papa Gregório XVI, que teve seu reinado entre 1.831 e 1.846, já sabiam o que pensam os presidentes norte-americanos e a coisa não muda mesmo.
Após seu banho hoje olhe para o espelho e pergunte para a pessoa mais importante da face da terra se você pode esperar alguma coisa diferente de um presidente americano?
Nosso inestimável Apparício Torelly, auto-intitulado Barão de Itararé, disse com muita propriedade:
“De onde menos se espera, de lá é que não vem coisa alguma”.
Pensem com frieza e respondam:
Al Gore, se não tivesse sido fraudado, em oito anos já não teria tomado posse da Amazônia?
Mas o motivo desta crônica foram as palavras da candidata a vice pela situação, ditas na Convenção Republicana:
“Venho de uma família comum, com altos e baixos como toda família”.
Ao dizer algo tão coloquial, essa senhora pôs imediatamente os olhos e a câmeras de seu país e o mundo sobre sua filha de dezessete anos que, solteira, espera um filho.
Pobre garota; o corte de câmera foi tão rápido que deu para perceber que ela corou na hora.
Precisava a citada candidata se desculpar pela gravidez de sua filha? Tinha ela o direito de sacrificar a privacidade da garota em prol de sua candidatura? Ou será que desconhecemos que por trás da adiantada sociedade americana existe uma provinciana comunidade que neste momento está chamando essa garota de, no mínimo pervertida, no máximo, ah, isso só Deus sabe.
Pergunto mais:
Será, em sã consciência, que a filha dela quis ficar grávida?
Não acredito que tenha feito isso de propósito, mas se foi eu pergunto:
Ela tem raiva da mãe, possivelmente muito preocupada com sua carreira política?
Tenho ainda mais uma pergunta a fazer para a candidata:
O que ela esperava que sua filha fizesse no Alasca, senão se manter aquecida?
Eu sempre quis fazer mais por minhas filhas, e não estou escrevendo isto pela certeza que lerão estas linhas. Sempre fizemos, a Elisa e eu, nosso limite mais alto pela dedicação.
Errei na educação delas?
Puxa, errei muito!
Tenho um consolo, todavia: todo pai sempre erra; se prende foi porque não soltou; se soltou foi porque não prendeu, e por aí vai.
Dia desses estava meio abatido por alguns problemas que elas estão passando e minha mulher fez uma declaração estarrecedora:
“-Fofinho, você não é Deus!”.
Vocês certamente se lembram da época - foi quando andei deprimido; essa declaração me surpreendeu em diversos aspectos e, ao voltar à minha condição humana, que eu desconhecia, aprendi com a Elisa, entre outras coisas, QUE NOSSAS FILHAS SÃO SOMENTE AS NOSSAS FILHAS.
Ainda que as crianças tenham no nome Júnior, Filho, Filha, Sobrinho, Neto, são pessoas autônomas, com sentimentos e pensamentos únicos.
Não temos que nos inibir ou envergonhar se a gravidez foi precoce – existe isso? - ou se o casamento não deu certo; é a vida deles.
Se um dia resolveram trocar São Paulo por um adorável restaurante em Recife, paciência, temos que nos conformar com a nossa saudade e viver da forma mais intensa possível os tempos que passamos juntos, sem sufocá-las.
A única coisa que quero passar para minhas adoradas é a sensação de que esta casa é aquele porto seguro que terão aqui em casa.
Podem ir para a Austrália, podem trabalhar em Snowmass, podem viver no Curucutu; daquele portão sempre terão a chave, e do meu coração também.
Portanto amigas e amigos, como temos que acompanhar, querendo ou não, as eleições americanas, peço encarecidamente, em nome dos nossos filhos, não votem na senhora Sarah Palin, vice do McCain.
Não votem no Obama também.
Vamos encabeçar uma desobediência civil, quem saber aí nosso voto possa ser facultativo.

Enquanto isso, aceitam um cappuccino?


Dedicado à minha amiga Cris Marino e ao casal José Antonio e Anete, pela saudade de suas filhas.