domingo, 16 de junho de 2019

O fim do império dos Jornais


Muita gente próxima à minha idade vai reconhecer uma frase que, certamente, os jovens de hoje nunca ouviram:
“Para ser alguém bem informado é necessário se ler dois, três jornais por dia, e uma ou duas revistas semanais”.
Isso era uma máxima exigida de quem queria ser de alguma forma influente, ou “’executivo”, o coach daqueles tempos, ou ainda um chefe de alguma indústria, dono de comercio e por aí ia.
O Brasil sempre se orgulhou de ter jornais tradicionalíssimos, que vinham dos tempos do império, que haviam sobrevivido às ditaduras, a crise de 1929 e revoluções.
Tinha até mesmo uma revista que dizia que não se curvava a ninguém, que depois nós vimos que seus jornalistas publicavam o que os donos dela, talvez pelas origens próximas da máfia italiana, exigiam que fosse publicado.

Então entrou em ação a criação mais democrática que a Humanidade já fez: o computador pessoal.
Nos primórdios das comunicações, eram as trocas de mensagens – logo batizadas de e-mails – que traziam desde notícias que não interessavam aos donos dos jornais até notícias que não interessavam a quase ninguém.
A seguir se criou um meio de comunicação que agregava os iguais, aplicativo que foi engolido por outros que abrigavam os amigos e não tão amigos.

E então, aquilo que as ditaduras não conseguiram, o povo conseguiu: o fim do império da mídia.
A primeira a naufragar foi a impressa.
Numa reportagem aonde se pretendia acabar com as sacolinhas gratuitas dos supermercados, um jornalista “descolado” sugeriu a um transeunte que, no banheiro, se colocasse jornais no cestinho de papel higiênico. A resposta foi fatal: “E eu tenho dinheiro para comprar jornal? ”.

O gasto do jornal foi substituído pelas mensagens dos amigos, pela internet cheia de blogs, alguns como o meu, que não deve nada a ninguém, outros voltados para finalidades específicas como yoga, bem estar, etc.
Também vieram os financiados por governos corruptos, que normalmente abrigam jornalistas demitidos pela Globo (ou não aceitos por ela) e, finalmente, alguns algo independentes.

Restou à imprensa, escrita e televisada, se apoiar em si e seus pares; eles se citam como referência, como se fossem um poço de credulidade.
Coitados, perderam-se no tempo.

Neste momento se vê no Brasil uma verdadeira batalha, toda mídia tentado voltar a comandar as ações e, do outro lado, dois bandos de guerrilheiros:
um ligado à esquerda, que usa muita ironia em suas mensagens, tem algum compartilhamento entre eles mesmos, a vão massageando seus egos.
Do outro um grupo de indignados com passado do país, uns mais radicais, outros mais ainda, que defende com unhas e dentes uma nova ordem para o país e que multiplicam seus pontos de vista aos borbotões, ainda que alguns seja assustadores na essência.

Em comum, os dois grupos desprezam a imprensa e só a glorificam quando expõe pontos-de-vista iguais aos seus pensamentos.
A grande massa de brasileiros, entretanto, aproveita o domingo para comer o macarrão da mama ou fazer um churrasco na laje, enquanto espera a transmissão do futebol no final da tarde.
Viva os novos tempos. Nunca imaginei que viveria algo tão exuberante.
Aceitam um cappuccino?