quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ridículos esses Deputados.


Uma das coisas que eu tento não me descuidar é da minha memória e tal qual Federico Fellini, eu me recordo.
Essas cotas para gastar com passagens aéreas, por exemplo, eu me lembro bem.
No princípio era o verbo, ou melhor, a verba destinada à compra de quatro passagens por mês para seu Estado de origem, a fim de que o deputado pudesse retornar às bases que o elegeram e ficar próximos aos seus eleitores e suas necessidades.
Nunca ninguém acreditou nisso, mas...
Também lhes eram destinadas quatro passagens para a cidade do Rio de Janeiro, pois alguns órgãos públicos ainda tinham sede na Cidade Maravilhosa.
Essas passagens permaneceram disponíveis mesmo após todos os órgãos irem para Brasília.
Um amigo carioca costumava qualificar essas passagens como “Vale-Antonio’s” ou “Vale-Macarronada”.
De repente - essas coisas só acontecem assim - as quatro passagens, tanto para um lugar quanto outro, passaram a ser de ida e volta, ou seja, oito para o Estado e oito para o Rio. Havia uma exceção: os deputados do Rio de Janeiro, por razões óbvias.
Um pequeno detalhe que deve ter enriquecido muito a Agência de Viagem vencedora da concorrência para vender as passagens de Suas Excelências: as passagens eram compradas pelos valores cheios, sem descontos, sem promoções. Isso chegou a gerar muita reclamação com os deputados que eram atolados nos puídos aviões da VASP que pagavam comissão de 13%, contra 9 e depois 6% das demais.
Dizem que por causa do muxoxo dos deputados fluminenses levou à alteração dos critérios: foram criadas as cotas. Os deputados passaram a pagar, silenciosamente, as passagens dos assessores que, nós sabemos, eles tem às pencas.
Em função dessas alterações, os aviões lotavam de e para Brasília nas Sextas e Domingos.
Reclamando do excesso de passageiros, pois além dos seus inúmeros assecl..., digo, assessores, ainda tinham que dividir assentos com o povo, alguns passaram a viajar para suas bases as Quintas à noite e voltar a Capital Federal na Segunda de manhã.
Para encurtarmos essa conversa, as sessões na Câmara e no Senado só são para valer a partir da tarde da Terça até Quinta ao final da tarde, isto por que quinta-feira era o dia da semana que se espalhavam os boatos e muitos desses senhores tinha chance de aparecer na TV.

Muito bem.
Hoje ouvi nos telejornais um desses senhores dizer que estavam querendo separá-lo da família e que só os solteiros seriam candidatos.
Outro desses senhores falou que forneceu passagens “a correligionários que estavam precisando, sim” e que não havia nada de errado com isso.
Pois bem, ou nós somos muito imbecis ao engolir uma história dessas, ou esses senhores estão agindo como imbecis.
Nós não demos cotas para deputados irem à Disneylândia, Europa ou Buenos Aires. Aliás, nós não demos nada, eles se deram!
Quatro a cada cinco brasileiros nascem e morrem no mesmo município. Nos estados desses deputados muitos nascem e morrem sem sequer serem registrados.
Essas pessoas, em algum tempo, não teriam necessidade de viajar para cuidar de sua saúde, por exemplo? Quem quebra o braço com fratura exposta no sertão da Bahia vem de ambulância até o Hospital das Clínicas em São Paulo.
Qual a diferença dessas pessoas comparadas aos correligionários do deputado?
Eu posso apontar duas:
Primeira: a honestidade da maioria;
Segunda: a falta de oportunidade desses brasileiros que já perderam o caráter de tanto ver esses políticos pulhas e aproveitadores se darem bem.
E senhor deputado pela Paraíba saiba que o senhor não é um Coronel que pode enfiar sua verdade garganta abaixo do resto da nação. O senhor deve realmente sair às ruas e visitar CEAGESP, em São Paulo, ou nos canaviais ao longo da Rodovia Anhanguera e ver milhares de pessoas que passam meses longe da família para conseguirem uns caraminguás que vai sustentar suas famílias pouco acima da linha da miséria, quando conseguem.
Se não quiser vir a São Paulo vá até o Pará, lugar na America do Sul onde mais trabalham pessoas em condições de escravidão.
Se o senhor faz questão da sua mulher junto com o senhor, faça como muitos colegas meus faziam e como eu mesmo fiz: ao me mudar de cidade para trabalhar, levei minha mulher junto. Sem precisar de passagens pagas com dinheiro público para conviver com minha amada. Não me separei nem de minha cachorra.
O senhor iria economizar dinheiro público não precisando viajar as Quintas e voltar as Terças, trabalhando sério mesmo só as Quartas, embora eu nem acredite nessa seriedade.
Não coloco todos os políticos no mesmo saco, mas sem dúvida coloco a maioria num saco só e não gosto do cheiro que vem de lá.

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