terça-feira, 6 de julho de 2010

Ecobobos

Tenho acompanhado com alguma indignação a discussão forjada pelas grandes redes de supermercados contra as sacolas plásticas que embalam as mercadorias que vendem e os ecobobos que tocam suas trombetas por sua extinção, sem perceber como estão sendo conduzidos pelo nariz nesta história.
A essência da questão é uma só: a sacola plástica é um custo direto para os supermercados.

Toda pessoa com algum discernimento sabe que o mal uso de bens deve ser combatido e pessoalmente acho necessário se procurar mesmo uma solução ao destino de TODAS as embalagens, não só essas.

Para sustentar sua tese e assustar otários, os supermercados fornecem números grandiosos: são mais de 12 bilhões de sacolas por ano que irão degradar o Meio Ambiente por mais trezentos a quinhentos anos.
Entretanto desconfio do alarde e não confio nesses dados porque quem os fornece são os maiores interessados no fim do fornecimento e olho diretamente para a solução por eles proposta para essa questão:
“a venda de sacolas retornáveis a preços acessíveis”.
Será que essas sacolas vai-e-vem nunca vão estragar?
Caso se estrague, ao serem jogadas no lixo degradarão mais rapidamente?

Faço outra pergunta: se a preocupação dos supermercados é ecológica e séria, por que não pedem a extinção daquele filme plástico que embala, por exemplo, carne, goiabadas, queijos branco e amarelo, pedaços de melancias? É um material absolutamente descartado pelos consumidores diretamente no lixo.
Ou a embalagem das salsichas, que é absolutamente inútil após seu uso original.
Mas como se trata de produtos agregados a um item de venda, esqueça-se a ecologia. Ou dane-se a ecologia, que é o que me parece o pensamento dos empresários da área.

Vamos olhar para a pérola poluidora dos rios e lixões do país:
As garrafas pet, aquelas plásticas que embalam refrigerantes, águas minerais, sucos. Sabe quantas são produzidas no mundo?
Tenho um número disponível, o que foi fabricado no Brasil em 2008: 469.700 toneladas.
Considerando que cada uma pesa perto de 25 gramas, teríamos uma produção de aproximadamente dezoito bilhões e oitocentos milhões dessas embalagens.
A mesma fonte indica a reciclagem delas no país no mesmo ano foi de sete bilhões e oitocentos milhões, o que faz sobrar na nossa Natureza algo em torno de ONZE bilhões dessas garrafas, espalhadas nos santuários ecológicos, praias, matas e por aí vai.
O que seria mais prejudicial: as sacolas ou as garrafas? Não degradam por igual? Não, a garrafa pet demora mais tempo.
A Prefeitura de Nova York obriga os vendedores a recomprar garrafa pet ou de vidro ou lata de alumínio por cinco centavos de dólar para cada.
Uma lei inteligente.
E lá os supermercados usam sacolas de papel, apontadas pelos ecobobos nacionais como uma das soluções.
Bom, nem todas as sacolas de papel são feitas de material reciclável e aí temos três crueldades:
Primeira: continua a existir a sacolinha, só que a um preço mais atraente para o dono do supermercado;
Segunda: alguma área produtiva para alimentos será destinada ao plantio de árvores para produção desse material;
Terceira: assim como a petroleira, a indústria do papel também contribui muito para a degradação ambiental, principalmente a aérea. Como muitas dessas fábricas têm dificuldades para operar em países como Estados Unidos, Canadá e da Europa, elas se instalam em países “emergentes”, ou subdesenvolvidos mesmo, que normalmente flexibilizam muito as regras anti-poluição em nome da salvação de empregos.
Diga-se de passagem, nos Estados Unidos não se recicla nem um terço das embalagens de papel ou papelão.
Para onde vai esse lixo? Prefiro não comentar.
É certo que a degradação do papel é mais rápida, mas aterro sanitário é aterro sanitário e não existe solução a curto prazo para esses terrenos em lugar algum no mundo, exceto no Brasil, onde se constroem casas populares.

Embora a sacola de papel ou papelão seja um bem renovável e o petróleo finito, que tal se aproveitássemos uma parte daqueles onze bilhões de garrafas pet para fazermos sacolinhas?

Assim, como cobertor de pobre – que ou cobre os pés ou cobre o pescoço – as alternativas para embalagens de produtos e as embalagens de seu transporte praticamente desembocam numa só solução: a reciclagem.
Desculpe, haveria uma outra solução, o chamado consumo consciente, mas, como diria a Enfermeira da Jamaica, “confiar na consciência coletiva nem em conto de fadas”.

Ao invés de se fazerem leis para proibir essas sacolas, deveriam ser feitas leis que obrigassem os prefeitos, sob pena de prisão, a mandarem coletar os recicláveis. E que fossem impostas tremendas multas aos munícipes que não cumprissem a seleção do lixo, como acontece, por exemplo, em Los Angeles, na Califórnia.

Para finalizar duas pequenas histórias que ilustram bem a visão popular sobre o assunto:
Uma diarista que trabalhava em casa há muitos anos atrás, certa feita brigou comigo porque eu pedia para colocar essas sacolinhas nos cestos dos banheiros de casa:
“Onde já se viu alguém que trabalha no Banco do Brasil ser assim pão-duro e não comprar sacos de lixo que são tão baratinhos?”

Outra história foi quando conversei com o pessoal da Prefeitura que recolhe os recicláveis às quintas-feiras na porta de casa:
- Tenho que separar esse material em sacos diferentes? - perguntei.
- Não, pode SEPARAR TUDO JUNTO que a gente leva.

Creio que essas Organizações, ao propor uma campanha, deveriam refletir um pouco mais e explorar todas as variáveis antes de se alinhar a empresários que são, no final das contas, simplesmente gananciosos.

Aceitam um cappuccino?

2 comentários:

Anônimo disse...

Grande Onça,
Aqui na praia (ubatuba) só vemos catadores de latinha de cerveja (vazia), qualquer outra coisa não vale a pena (pouco valor, segundo eles). Enquanto isso é comum eu ser visto recolhendo embalabens pet, saquinhos plásticos, embalagens de salgadinhos, garrafas de vidros ... Preciso voltar mais vezes ao ano... Tudo pela ecologia !

Guerra

Ramos disse...

Prezado Onça,

Concordo plenamente com você nessa questão das sacolinhas plásticas. Elegeram-nas como vilã da poluição, o que considero apenas uma meia verdade, pelo fato de terem esquecido da dupla utilidade das mesmas.
Certamente você já observou a forma como elas são descartadas após seu uso inicial: SACOS DE LIXOS, NA MAIORIA DAS VEZES. As "vilãs",além de cumprirem dupla função, acabam nos aterros sanitários para deixarem de existir alguns séculos a frente. Bem, pelo menos não ficam atiradas em qualquer lugar como as pets, sem nenhuma utilidade final.

Se realmente as intenções de acabarem com as sacolinhas plásticas fossem pura e cristalina, como são apresentadas, paralelo aos estudos de substituição das mesmas, deveriam se pensar no descarte do lixo residencial, pois seu substituto natural seriam os sacos de lixo plásticos , que são tão poluientes quanto as sacolas, já que basicamente são oriundos da mesma matéria prima.

Minha opinião é que as mesmas devam ser substituidas por similares fabricadas com materiais bio degradaveis e que mantenham a mesma função da atual, evitando-se assim trocar seis por meia duzia.

Dá bem para perceber que tudo não passa de interesses econômicos, assim como a grande maioria das questões voltadas a conter a poluição em nossa casa maior.

Idéias brilhantes e boas intenções pipocam no mundo todo, porém o grande problema é na hora de ratear a conta, pois ninguem quer perder ($), ou deixar de ganhar, que sai na mesma.

A Economia é uma ciência maravilhosa, pois é uma das principias ferramentas para a evolução da humanidade, desde que seja usada na geração e distribuição de renda, sua principal função, sem comprometer o equilibrio do nosso eco-sistema.

Abraços ,

Ramos