sexta-feira, 16 de julho de 2010

O dia que minha mãe escapou de ser presa...

O Governo Federal, se assim podemos chamar, está encaminhando ao Congresso, se assim podemos chamar também, uma lei que proíbe o castigo físico aos filhos e a crianças em geral.
Boa lei.
Existe uma corrente de pais que diz que uma palmadinha pode ser muito educativa, e eu mesmo já pensei dessa forma. Não é a forma correta e temos que evoluir e achar o equilíbrio entre “educação por exemplos” e “o fim do descontrole da capacidade de argumentar quando esta chega ao limite de nossa incompetência”.

É mesmo uma covardia vermos crianças que apanham ou são pura e simplesmente torturados por pais e mães e tios e avós ou tutores que vêem no sofrimento dos inocentes o alívio à suas angústias.

Vamos torcer para que essa lei vingue, pois, afinal, o Brasil é pródigo em leis e algumas pegam outras não pegam.
Lamentavelmente muitas crianças vão continuar sofrendo porque, se olharmos a olho nu, também é proibido matar, roubar, corromper, prevaricar.
Todavia a existência da Lei preverá a punição que hoje só é efetivada quando alguma crueldade acontece e a mídia toma conhecimento e fatura em cima.
Esse é o grande perigo:
De um lado vai parecer que a lei estará sendo aplicada e milhares de crianças vão estar a mercê da maldade praticada à surdina.
De outro poderemos ter pais sendo levados para a cadeia por dar um tapa na mão de uma criança que iria colocá-la inadvertidamente no fogo.

Como exemplo que só a existência de dispositivo legal não basta, temos uma lei feita sob encomenda para mulheres que apanhavam e apanham de forma contumaz de companheiros, se pobres, e de maridos, se ricos: a Lei Maria da Penha.
Pois bem, dia desses enquanto fazia compras no açougue, ouvi a notícia que uma dessas moças que foi assassinada recentemente e cuja morte trouxe comoção ao país todo, foi a uma Delegacia da Mulher pedir proteção contra o parceiro. A Delegada não acolheu a denúncia, pois achava “que aquela queixa iria banalizar a Lei Maria da Penha”.
Uma Delegada!
A seguir, no supermercado, ouvi uma argumentação sobre quanto seria mais fácil e barato aquele goleiro pagar uma pensão que cumprir uma pena por assassinato.
Ouvindo as opiniões e aguardando minha vez de passar as compras, lembrei de um fato que aconteceu comigo quando garoto:
Comecei a conviver com uns garotos vindos de outro estado e que eram bastante “levados”, como se dizia à época.
Fui com eles até a vendinha do turco onde, rápido e sutil, roubei um doce de leite, aqueles retangulares, durinhos, deliciosos, e o dono do mercado nem percebeu.
Mais estúpido que inocente, ao chegar em casa contei para minha mãe o que havia feito.
Tomei uma série de cascudos e em seguida minha mãe me pegou pela orelha e me levou, entre ralhadas e palavrões que só ela era capaz de dizer, e sob os olhares atônitos das vizinhas, por todos aqueles longos cento e vinte, cento e cinqüenta metros que separavam minha casa da venda.
Lá, cabeça baixa, consciente da minha burrice e vexado com o deslize, pedi desculpas e paguei o doce roubado.
Mais que corrigir minha falha, minha mãe sentiu a necessidade de mostrar para a rua toda que educava seus filhos.
Ser honesto em casa não era uma virtude; era uma necessidade.

Fui pego com um sorriso nos lábios pela Caixa enquanto imaginava o que aconteceria se aquele dia fosse hoje e minha mãe fosse flagrada por uma viatura; ela não sabe do que ela escapou...

Com esses ares de saudades e gratidão a esse amor incondicional, só me resta tomar um cappuccino.
Aceitam?

2 comentários:

Julio Fábio disse...

Gostaria de lembrar meu especial amigo que o turco não era turco, era armenio; eles jamais iriam e perdoar por uma ofensa destas; os turcos esmagaram a Armenia.
Julião

Arnaldo Onça disse...

É mesmo meu caro, mas nós sempre o tratamos por turco e seu filho por turquinho. Não devíamos ter feito. Fiquei na dúvida na hora que escrevi, mas preferi manter a forma como tratávamos, ainda que muito incorreta. Não foi falta de respeito à dignidade dos armênios, foi respeito à nossa tradição oral.