quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ele não tinha esse direito

Ouvindo hoje à tarde meu amigo Renato comentando sobre o malfadado acidente com o Costa Concórdia, me vieram à cabeça algumas reflexões:
1ª - Sempre, ao vender viagens em cruzeiros, adverti nossos passageiros que o grande perigo de uma embarcação como essa, com 112 mil toneladas, era – e é – o incêndio. Efetivamente e por incrível que pareça, um incêndio pode representar um grande número de baixas entre as pessoas que se encontram a bordo. É o terror de quem vive nos navios.

2ª – Nunca, mas nunca mesmo, passou pela minha cabeça que o capitão de uma nave dessas, dessa companhia em particular, iria se portar de forma tão terrível, irresponsável e covarde como se pode depreender, até agora, se comportou o tal Francesco.

Terrível, pois a nave não era sua embarcação de veraneio, para que tomasse a decisão de desviar dos caminhos pré-programados e “prestar homenagem” a quem quer que fosse.
ELE NÃO TINHA ESSE DIREITO.
Imaginem um comandante de um desses aviões 480, com todas suas rachaduras, resolvesse homenagear o Papa e passasse com o aeroplano em vôo rasante sobre a Praça de São Pedro num domingo, meio-dia.
Um verdadeiro absurdo.

Irresponsável por pegar um patrimônio de mais de 450 milhões de Euros e batê-lo em pedras, abrir um rombo de mais de 70 metros a bombordo e... se marcar.
Deveria começar a evacuação de imediato.

Mas, parece, só evacuou nas calças.
Covarde, muitas vezes covarde, por abandonar a embarcação com passageiros e, dentre eles, idosos, mulheres e crianças. Isto é imperdoável.
Saiu e não voltou nem quando lhe ordenaram que voltasse..
Covarde.

3ª – Qualquer nave desse porte, assim como enormes aviões, só soçobram quando alguém faz muita merda, como foi o caso. Elas têm estabilizadores, controles por satélites, compartimentos estanques, estudos estruturais intensos, confecção elaborada que exige, muitas vezes, ajustes milimétricos.

4ª – Ainda existe uma possibilidade que todo mundo sabe e ninguém quer considerar: que algum imbecil, em nome de alguma idiotice, loucura, fanatismo ou loucura, atire um míssel contra o navio. Bom, mas aí entra mesmo o imponderável e, nas águas onde navegavam o Concórdia essa possibilidade era praticamente nula.

Resta-nos a imensa tristeza de ver por terra – ou por água – uma segurança que tínhamos para vender, tranqüilos, uma das coisas mais prazerosas que se pode fazer na vida: curtir um cruzeiro com afeição, elegância, glamour, prazer.
A foto que se vê nesta primeira página é de um cruzeiro.

Pelo menos por um tempo.

Às vezes essas desgraças evitam outras do mesmo quilate.


Minhas orações aos que se foram.

3 comentários:

Pier Luigi Foschi disse...

Prezado(a) Arnaldo Onca,

Em um momento tão delicado, quero explicar a quem, como o(a) senhor(a), há muito nos demonstra a sua confiança e proximidade na qualidade de Sócio(a) CostaClub.

O terrível acidente do Costa Concordia atingiu o que há de mais importante para nós: os nossos hóspedes, os nossos funcionários, um dos nossos magníficos navios. Sofremos pelas dificuldades e sofrimentos causados a estas pessoas e pela dor dos familiares das vítimas. Em todo o mundo, cerca de 1.100 pessoas da Costa Cruzeiros estão trabalhando desde a noite de sexta-feira na gestão deste terrível acidente, para dar suporte às operações de salvamento e assistência aos hóspedes e à tripulação, para que possam encontrar os seus familiares e serem levados de volta às suas próprias residências.

Este dramático evento extraordinário, causado aparentemente por um único erro humano, que não deverá mais se repetir, não devia ter ocorrido.

Viemos a saber dos atos de heroísmo de membros da tripulação que antepuseram o salvamento das outras pessoas ao próprio. A tripulação comportou-se de forma elogiável em uma situação de extrema dificuldade, conseguindo evacuar, nas condições terríveis em que se encontrava, mais de 4.000 pessoas no menor tempo possível. Estamos orgulhosos com o empenho que nós e as nossas pessoas dedicam à sua segurança.

Quem nos conhece sabe que a Costa Cruzeiros atua no pleno respeito de todas as normas relativas à segurança e que os seus procedimentos estão em conformidade com os padrões internacionais, e em alguns casos são até mesmo mais rígidos.

Todos os membros das nossas tripulações passam por um treinamento específico para a gestão das emergências e para dar assistência aos Hóspedes em caso de abandono do navio. Cada membro das nossas tripulações é portador de um certificado específico (BST - Basic Safety Training) e todos são formados através de exercícios de abandono do navio que são repetidos constantemente a cada duas semanas. Funções, responsabilidades e deveres são claramente definidos e atribuídos para permitir a gestão de uma situação de tamanha importância.

A capacitação dos membros das tripulações da Costa Cruzeiros é periodicamente controlada pela Guarda Costeira e por entidades de classificação independentes em conformidade com os requisitos especificados no sistema SMS (Safety Management System).

Um exercício de salvamento é realizado com todos os Hóspedes dentro das primeiras 24 horas após o embarque, conforme determina a lei.
A Costa Cruzeiros adota um sistema computadorizado de controle que permite verificar se todos os hóspedes participaram do exercício.

Para garantir a máxima segurança, em todos os navios Costa estão disponíveis coletes salva-vidas, barcos salva-vidas e botes em número superior ao máximo de pessoas que podem ser hospedadas pelo navio. Os barcos salva-vidas estão equipados com dispositivos de segurança, como reservas de água e alimento, caixa de medicamentos e instrumentos de sinalização e comunicação que permitem aguardar de forma segura a chegada do socorro. Além disso, os barcos salva-vidas são submetidos a minuciosos controles periódicos por parte da equipe do navio e dos organismos de certificação. Todos os navios Costa Cruzeiros são certificados pelo RINA e são fabricados de acordo com os mais altos padrões e tecnologia.
Estamos conscientes da responsabilidade que temos perante quem nos dá a própria confiança e as confirmações que nos são dadas por quem esteve nos nossos navios e encontrou a nossa equipe é motivo de conforto neste momento.

A confiança que continua a depositar em nós e o desejo de vê-lo(a) novamente a bordo dos nossos navios serão para nós o melhor prêmio para todos os nossos esforços.


Com sincera gratidão,

Pier Luigi Foschi
Presidente e Administrador Delegado de Costa Cruzeiros

Petinati disse...

Onça,

Li atentamente o seu texto. A navegação marítima é uma das
coisas que me impressionam, sobretudo em mar revolto, em que
as ondas cobrem o navio e o jogam de um lado para o outro
e ele não afunda...

Nos últimos dias tenho visto na TV alguns acidentes, de navios
que se partem ao meio e aí sim, afundam. Há algum tempo
fiz um cruzeiro no Caribe, e era um navio português, antigo, e
um oficial me contava que, como era um navio antigo, o fundo
dele era uma quilha (?), que tem mais estabilidade e equilíbrio
que os navios mais recentes, que têm o fundo quase chato
(espero que esses dados estejam corretos).

Voltando ao tema original, que é o Costa Concórdia, eu me
lembro das aulas que falavam em "Imperícia, Imprudência e Negligência".
Para a companhia de navegação é um prejuizo enorme, em dinheiro
e prestígio. Para o capitão do navio, uma vergonha perpétua, mas
para os passageiros, uma fatalidade, cada qual com sua história.

Talvez, de um ponto de vista esotérico, para os que crêem nisso,
a repetição, 100 anos depois, da tragédia do Titanic.

Abraços,

Petinati

Tacashi disse...

Já estava dificil de convencer a dona Ester e agora???? Acho que seu desafio foi por agua baixo.

Abraço

Tacashi