terça-feira, 14 de maio de 2019

Rico não é solidário; é competitivo.


Passado mais de um mês do incêndio na Catedral de Notre Dame e todos os indignados do FACEBOOK com as ofertas recebidas pelo monumento ainda não doaram €1 sequer para as crianças famintas da África. 
Ou seja, ou a indignação é só no teclado e diz respeito ao dinheiro dos outros ou ocorre pela ignorância de algo básico: rico não é solidário; é competitivo.

É fácil entender porque o Schumaker doou €1 milhão para os afetados pelo tsunami da Indonésia em menos de 24 horas da tragédia ou porque o Cristiana Ronaldo pagou um tratamento para um garoto que tinha câncer: eles nasceram em classes média e baixa e entendem o quanto a solidariedade é necessária.

Já o rico só sabe o que é solidariedade na doença; é quando chega na AACD e vê seu filho ter o mesmo problema que o filho do motorista de ônibus. Aí ele percebe uma limitação em si e vê a necessidade de apoio.
Aliás, foi assim que surgiu a AACD, quando as crianças ainda eram defeituosas, não deficientes.
Também surgiram vários hospitais brasileiros, construídos com o dinheiro de milionários desesperados.

Fora isso, num caso icônico como a Notre Dame, o que aconteceu entre os ricaços foi uma pequena guerra de “eu doo mais que você”. Fácil chegar no valor que chegou, ainda mais quando se trata de aparecer nas páginas sociais doando.

Nas terras tupiniquins vários administradores das fortunas alheias ficaram indignados quando uma milionária nascida no Brasil - casada um podre de rico europeu e que mora por lá há três vezes mais tempo que viveu por aqui – doou € 80 milhões à Notre Dame e nem um centavo para o Museu Nacional.
Erraram três vezes:
Primeiro: o Museu Nacional não diz nada para a quase totalidade dos ricos do hemisfério norte. Não é o D’Orsay ou a Galleria Borghese;

Segundo: Não se sente corrupção na administração desses fundos na França e, se houver, o corrupto vai preso sem STF para libertá-lo. Já no Brasil...

Terceiro, e mais importante: o rico tem que competir com outras pessoas do seu ambiente.
Ou alguém usa uma bolsa de plástico, feita na China, por uma operária-escrava, que rasga fácil, na qual ela paga €30.000 por quê?
Porque alguém que ela conhece não tem, e ela fica ‘por cima”, ou, se tem, ela não fica “por baixo”.

Se não deu para entender ainda, vamos trazer o exemplo para nossa classe média que se julga endinheirada; alguma madame vai usar batom da Jequiti ou Boticário e correr o risco de encontrar a recepcionista do marido usando a mesma coisa?

Qual a real necessidade de se comprar uma Ferrari e andar com ela nas ruas esburacadas de São Paulo, a 70 por hora, ou tomar uma multa numa estrada, para poder mostrar para os amigos que estava a 260 km/hora, registrados na multa. E ainda passar os pontos para um laranja que vende a Carteira de Motorista por 200 Real.

O nome disso é competição, não solidariedade.

Então, não use o FB para se fazer de santo. Faça como meu amigo Marcos Mota, de Puigcerdà, na Catalunha, que pediu que não lhe dessem presente de aniversário, mas sim doações para os Médicos Sem Fronteiras.

Mais ação, menos demagogia.

Aceitam um cappuccino?

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