Quando no começo de janeiro me alinhei à postura contrária
aos atentados ao Jornal Charlie, houve quem esfriasse a amizade comigo e outros
que justificassem a barbárie por causa das bobagens que aquele pasquim publica.
Pois bem, e agora?
Como vamos justificar matarem pessoas inocentes que estavam
se divertindo vendo um jogo de futebol ou dançando numa casa noturna?
Estão matando inocentes por causa da morte de seus chefes
terroristas, é isso?
Talvez agora fique claro que o que perdemos foi nossa
liberdade de viver a vida e agora estaremos mergulhados, novamente, numa idade das
trevas, pois poderemos ser alvos em potencial a qualquer instante, seja porque
nos divertimos em festas de aniversário ou casamento, porque participamos de
ritos religiosos condenados pelos bárbaros, ou ainda porque jovens vão às
discotecas pensando em sexo após a discotecas.
Condenados por presunção de sexo, diga-se de passagem, por
aqueles que acreditam que terão um sem-número de virgens esperando por eles no
paraíso.
Enquanto nos compadecemos com suas crianças mortas - por
fugirem deles mesmos - em praias, eles hoje comemoram a morte de jovens e
inocentes como um trunfo sem precedentes à decadência do Ocidente.
Somos decadentes?
Qual é o pecado de nossas mulheres ao andarem de cabeça
descoberta e sozinhas pelas ruas? Podem pecar?
As crianças não poderem empinas pipas para não verem
mulheres em suas casas e pensarem em sexo. É isso?
Vamos ser executados por termos alto grau de liberdade por
aqueles que pensam nas virgens pós morte, de novo?
Esqueçam as charges do Charlie, esqueçam qualquer
justificativa que a esquerda imbecil possa dar para essa tragédia:
É NOSSA
LIBERDADE DE IR E VIR, DE PENSAR E VIVER QUE ESTÁ EM JOGO.
Nossa liberdade de tomar um cappuccino sossegado ao final da
tarde sem que um idiota se exploda ao nosso lado.
Vamos refletir, vou refletir, pois agora estou muito bravo e
eu não consigo perdoar, neste instante, os que foram provincianos no começo do
ano; temos que sair dos nossos pobres pensamentos para podermos.
Afinal, já se dizia no século XVI que “não se consegue descobrir
novos mares e novas terras sem se pisar nas areias das praias”
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