domingo, 6 de março de 2011

Identidade nacional brasileira

Dia desses, numa festa, conversava com pessoas que mal acabara de conhecer e, sei lá porquê, surgiu como assunto a conversa de que o Brasil não tem uma identidade nacional, argumento justificado - entre outros - pela nossa colonização lusitana, pobreza regional, acirramento de ânimos quando da última eleição, onde discursos políticos do então presidente, páginas postadas na internet por imbecis e o resultado desse pleito, quase provocaram um cisma no país, versão que nunca conseguirei aceitar.
Refleti sobre vários pensamentos expostos na discussão e ainda tenho um teimoso ponto de vista diverso:
Uma identidade nacional única seria extremamente prejudicial àquilo que conheço como brasileiro, pessoa boa gente ou gente boa que, mal se conhece e já se chama para o churrasco “lá em casa”.
Embora surgido em uma circunstância deplorável, o personagem “Zé Carioca”, de Walt Disney, demonstra bem o que sempre foi o brasileiro: “- venha de lá um abraço” – sempre dizia o papagaio ao conhecer alguém.

As coisas mudaram bastante depois da II Grande Guerra e hoje vemos a Europa tropeçando em suas conquistas do século passado:
Na Inglaterra os súditos nativos da Rainha deploram os costumes de seus “cidadãos de segunda classe”, oriundos de outros países da Comunidade Britânica, antigo “Império onde o sol nunca se punha”, que insistem em fazer nos arredores de Londres e – pasmem – em outras grandes cidades inglesas como Birmingham, um pedacinho de seus países de origem.
Um quinto dos habitantes da Ilha pratica religiões diferentes dos Cristãos e a maioria britânica tem verdadeira ojeriza aos hábitos dessa gente que não tem o dom de tomar, com prazer, um chá das cinco, como citado por Aghata Christie em “Desenterrando o Passado”.

Também pagando seus pecados de conquista está a França, país com área pouco menor que o Estado de Minas Gerais, onde cinco milhões - de seus 65.000.000 de habitantes - são muçulmanos, mais de oitenta por cento deles não se sente obrigado a ter qualquer laço com a cultura francesa, segundo analise de sociólogos locais.
Hoje em dia pelo menos quinze milhões das pessoas lá nascidas são xenófobos, por entender que a França deveria pertencer somente aos franceses e não aos frutos dos pecados de guerras de conquista passadas.
“Eles urinam nas ruas e fazem filhos como ratos” – disse aquele candidato de direita que provocou uma grande corrida da esquerda para forçar sua derrota nas últimas eleições presidencias.

A expressão Xenofobia é vivida de forma mais exacerbada ainda na Espanha, um conjunto de regiões que se detestam entre si, particularmente os castelhanos e os catalães, sem contarmos aqueles que não se julgam nada espanhóis, os bascos.
Com um quarto da população desempregada, somente a conquista da Copa do Mundo de Futebol fez com que os espanhóis comemorassem alguma coisa juntos.
A bile espanhola está sendo despejada a rodo em turistas do terceiro mundo, particularmente sul-americanos, justamente num país que até 30 anos atrás tinha no turismo a maior parte de suas receitas. O maior pecado neste caso cai sobre a desinformação das pessoas: a Companhia Aérea espanhola tem passagens a preços atrativos e as pessoas correm para uma armadilha chamada Aeroporto de Bajaras, onde não terão a menor chance de argumentar que a Espanha é só o ponto inicial de sua viagem pelo Continente Europeu. Sonhos são desfeitos sem perdão e um sentimento de frustração e impotência jogados de forma indelével nas pessoas que só queriam ver Gaudi em Barcelona ou Miguelangelo em Roma.

Atravessando o Atlântico vemos os Estados Unidos dividido claramente em quatro vertentes de identidades diferentes: Os Brancos crentes, os Negros, os Hispânicos e os “Californianos, Oh! Deus, graças a Deus existe a Califórnia!”.
Pois bem; foi em Los Angeles que muitos brasileiros viram acontecer, ser entender, em 2.002, o discurso da atriz Halle Berry - uma mulata muito mais leite que café - sobre o momento histórico de uma negra ganhando um Oscar. Acho que a maioria das pessoas ficou aguardando a negra entrar no palco.
Não dá para entender que exista um único o perfil de norte americano, ou de estadunidense, nas pessoas de um país que tem uma divisão besta como esta.

Assim como confesso minha incapacidade para compreender essa situação, também não consigo conceber um nordestino de bombachas ou um paranaense sem aquele sotaque de “es” bem acentuados.
Acho que nossa maior riqueza é a multiplicidade de valores e a miscigenação desvairada.
Nosso grande poeta popular já advertiu que “Não existe pecado do lado de baixo do Equador”.

Ainda que me cause grande desgosto alguns hábitos centenários - resultado da falta de educação escolar e da dependência (quase) feudal aos políticos e donos de grandes fortunas, coisa que se confunde no nordeste do Brasil e na Capital de São Paulo – como atirar suas sujeiras nas ruas da forma narrada por Gilberto Freire em “Sobrados e Mucambos”, acredito que não devamos criar esse pecado da unidade geral, por necessidades acadêmicas, ou da divisão geral, por necessidades políticas.
O tempo e a memória curta do brasileiro sempre foram nossos aliados nessa questão.

Destarte, vamos aproveitar o carnaval para cair em tentação, sem grilos.

Aceitam um cappuccino?

4 comentários:

Tenorio disse...

Caro Arnaldo,

Temos em comum, a devoção pela família, a origem profissional (Banco do Brasil)e um amigo,o pernambucano Messias Tavares. permita-me pois, um comentário:

Acho muito triste que os povos, tantas vezes, se odeiem, desrespeitem a cultura uns dos outros, inclusive a religiosa, como nos países mencionados por você. Aquí, no Brasil, também existem as discriminações sociais e étnicas, não é fato? Mas,pouco a pouco as diferenças regionais vão desaparecendo. O Presidente Lula transformou o nordeste brasileiro e hoje atrái gente do sul para lá trabalhar. A imigração decresceu muito, pois a Europa resolveu seus problemas milenares de conflagração e fome eelesjá nmão vem morar no Brasil. Assistimos, com alegria, os casamentos interraciais aquí; a Televisão e meios de comunicação unificam a líongua, eliminando diferenças de termos usados no nordeste ou no sul,os gaúchos diminuem o uso da bombacha e os nordestinos seus trajes de couro, a não ser nas labutas do campo.O incentivo à Educação, o Bolsa Família, aindustrialização do País, o aumento do emprego, tudo leva-nos a crer (e viva Lula), que teremos no futuro um país sem diferenças regionais econômicas, e um povo cada vez mais com características físicas e culturais unificadas.

Abraços.ALCINDO

Anônimo disse...

Arnaldo, acho a questão muito importante. Lula cansou de nos dizer que ficava impressionado em suas viagens como os brasileiros falavam mal do Brasil. Também vi muito isso e acho que tem a ver com o sentimento de pertencimento, que costuma aflorar quando a seleção brasileira entra em campo. Trata-se de uma ideologia oriunda de nossas elites, espraiada pela nossa classe média e reproduzida pelas classes populares. O governo Lula conseguiu colocar um tijolinho nessa coisa e acho que estamos em processo de construção de nossa identidade, claramente marcada pela miscigenação e policultura. Parabén s.

Leila Farkas disse...

Parabens!!!! Gostei dos seus textos.

Leila Farkas disse...

O meu primeiro comentário sumiu, mas repito aqui:
Parabens pelo blog. Gostei dos seus textos. Abraços