domingo, 7 de dezembro de 2008

Rinaldo, do interior de Goiás.


Foi assim que eu conheci esse moço.
Educado, viajando a trabalho, gentil.

Muito se fala em outras épocas e, definitivamente as coisas estão mudando.
A cada dia que passa parece que ser educado é uma virtude dispensável, principalmente quando não interessa a uma das partes envolvidas na atitude.
A mesma pessoa que reclama de alguém não lhe ter segurado a porta é aquela que aperta correndo o botão do elevador para que a porta se feche logo e aquela senhora com uma criança no colo e outra carregada aos atropelos espere por outra oportunidade.

Todo mundo tem pressa, ainda que desnecessária.

Outra fala comum é a mania de nos criticarmos com frases do tipo “isto é Brasil...”, sempre dando pouca importância para as coisas que temos.

E dentre as coisas boas que temos, nosso jeito de ser ainda é o melhor.

Pode parecer incongruência, face minhas afirmações acima, todavia é verdade:
O brasileiro é amável, sorri, é amigável, principalmente aquele que não tem o tempo como seu inimigo.

Vejam o que ocorre em nossas companhias aéreas: nossos comissários e comissárias de bordo ainda sorriem para os passageiros, apesar das turbulências.

Dia desses voltávamos do Panamá quando presenciei uma cena marcante:
Uma senhora com uma menina de um ano de idade voltava ao Brasil para visitar os pais.
Quem já teve uma criança aos seus cuidados sabe que uma bebe tem um carrinho para ser carregada sob controle, uma bolsa com fraldas, cremes, fraldas, pomadas, fraldas, leite, mamadeiras, roupas, roupinhas, mais fraldas.
Outra mala de mão para a pobre coitada da mão que ainda tem sua bolsa pessoal.
Como diz a Elisa: nessa hora realmente o marido faz falta.

Foi assim que vi o Rinaldo a primeira vez; vinha ajudando essa senhora. Ambos ocupavam a penúltima fileira do avião à nossa direita. Ele na Janela, a criança no meio e a senhora no corredor.

A criança brincava no corredor, apesar do péssimo humor das comissárias, francamente irritadas com a menina fazendo graça para as pessoas, sem atrapalhar ninguém. Acredito que elas queriam que a mãe segurasse a bebe no colo o tempo todo, talvez pela falta de experiência em como isso é praticamente impossível. Ainda mais com o vôo prestes a sair quando necessariamente a criança ficaria presa.

Dois personagens mais em cena: uma nipo-americana e um cara que se dizia espanhol, mas passou pela fila de brasileiros na Alfândega no Brasil.
Entretanto tenho que dar um voto de confiança para o cara: o cheiro dele era de europeu sem banho há mais de uma semana.
Ele queria desalojar uma garota do seu lugar dizendo que o assento era dele.
Foi ignorado.
Causou algum tumulto porque as aeromoças ocuparam todos os bagageiros do fim do avião e não sobrava espaço para guardar as coisas dele.
Espalhou mau humor e mau hálito pelo ar.
Reclamou que seu assento não reclinava.
Começou a esnobar que era espanhol e acho que a sutil frase de minha mulher, dita no banco à frente dele em voz baixa, na minha direção, acabou por silenciá-lo:
"¿Por qué no te callas?"

Pouco antes a senhora com a criança propôs trocar de lugar com ele. Ele grosseiramente dissera não.

Ela então me pediu para traduzir a proposta a americana, sozinha na última fileria e ela também recusou.
Que horror!


Não adiantaria propormos a troca, pois havia um enorme rapaz ao meu lado.
Foi quando o Rinaldo simplesmente levantou e trocou seu lugar na janela por um assento não reclinável numa viagem de seis horas e meia.

Salvou a pátria e o orgulho nacional de sermos um povo gentil.

Um abraço ao Rinaldo e que seu sonho mais secreto se realize em breve.

Aceitam uma cachaça?

Um comentário:

Nossa Toca disse...

Bem bacana essa estória do Rinaldo, mas cadê a postagem sobre o lançamento do livro?????!!!!!! Já estou na parte em que ele encontra o fantasma. Quero ver as fotos!!!! Beijos, Mari