terça-feira, 1 de maio de 2012

Sem perdão ao passado

Lembro cristalinamente um ensinamento do meu querido Padre Arnaldo, que tanto ajudou a formar o caráter da minha turma da Igreja de Santa Terezinha, que me acompanha desde então:
"A pessoa só é criminosa até pagar a pena. Depois disso, volta a ser uma pessoa comum."
Verdade?
Não, o perdão só vem se acompanhado de acessórios:
Se, por exemplo, você for um cantor de pagode e traficar armas e fizer rolar muita droga em suas festas, você só vai pagar parcialmente sua pena e pode até cantar no Programa da Xuxa que será adulado por muita gente.
Mas aquele garoto pobre, negro e órfão que morava na minha rua, após ser adotado por um traficante, só encontrou seu perdão com quatro tiros no rosto. No rosto.

É um dos mistérios que não consigo entender:
quando uma pessoa precisa de ajuda e dá sinais disso, parece que todos os que convivem em derredor se voltam contra ela e, se tentar tirar a cabeça para fora d'água, encontra um pé fazendo força para que se afogue.
E olha que não são só os colegas de trabalho - interessados em ganhar mais - que fazem isso: amigos fazem, filhos fazem, cunhados fazem e como fazem.
Isto deve ser o princípio de muitas depressões.

A vida proporciona possibilidades de mudanças e nosso pai, que foi aquele carrasco na nossa juventude, com o passar do tempo e das trombadas que a vida nos dá, passa a ser o amigo que esquecemos que era.
Afinal, meu pai errou na minha educação, o meu avô errou na educação do meu pai, meu bisavô errou na educação do meu avô. Minhas filhas errarão na educação da sua prole.
Quem foi severo, deveria ter sido brando, quem foi liberal deveria ser severo, assim por diante.

Talvez nossa intolerância seja fruto da intimidade; nossos amigos e familiares estão próximos e é muito fácil se dar um tapa no irmão ou na mãe que no chefe; os primeiros podem relegar, o último, jamais.

Sinceramente acho que nem sempre fui de fácil convívio, apesar de nas minhas avaliações no trabalho sempre constar a expressão "lhano no trato".
Ser dramático ou fantasioso foram dotes atávicos e só eu e minha analista sabemos quanto lutei para me livrar disso.
Hoje minhas reflexões muitas vezes me tiram o sono.

Então, quanto a mim, peço que analisem se já não cumpri minha pena, se já não livrei minha esteira cármica e, por favor, aceitem o convite para um cappuccino.

Nenhum comentário: