quarta-feira, 16 de julho de 2008

Perguntas que farei a Deus.


Com o advento do telefone celular somos obrigados a ouvir conversas em elevadores que antigamente eram cochichadas em um quartinho miúdo sob a escada, ou um canto morto da sala onde reinava, garboso, o ébano aparelho de telefone.
As situações que assistimos muitas vezes beiram o ridículo.
Uma das histórias que ouvi foi de uma moça que falava no celular no aeroporto e quando alguém solicitou que ela ligasse para chamar o socorro para alguém que passava mal ela simplesmente respondeu que aquilo era somente uma encenação e que seu telefone não tinha linha.
Celular era uma coisa cara e muita gente se sentia o máximo ao segurar aquele tijolo junto à orelha e falar alto, muito alto, não só para driblar a pouca tecnologia de então, como também para que pudesse ser admirada pelos circunstantes.
Quantas encrencas eu não arrumei no caixa no Banco do Brasil quando deixava de atender uma pessoa que largava os papéis na bancada e ficava falando se achando o máximo. Chamava o seguinte e informava que atenderia a irada criatura quando desligasse o telefone.
Demorei para comprar um telefone desses e hoje só uso em duas circunstâncias: a serviço ou quando saio de casa. Desligo solerte ao final do expediente ao ao regresso ao sacro território caseiro. Entretanto sei que não sirvo de exemplo para nada nessa área por não gostar de falar ao telefone, ainda que exagere vez ou outra.
Voltando ao elevador, hoje ouvi uma frase em meio à balbúrdia que reinava no ambiente, com várias pessoas falando ao mesmo tempo.
Alguém que falava do outro lado nesses fones que parecem um rádio antigo que permite a todos ouvirem a conversa, disse à moça que o segurava que “no domingo ela estava muito gostosa naquele vestido vermelho decotadão e apertado!”.
Fez-se o silêncio!
De rabo de olho percebi que ela corou um pouco com a inesperada declaração.
Como desci no quarto andar não tive tempo de cumprimentar a moça como compensação à minha indiscrição.
Comecei a pensar nas mudanças que vivemos em nossos dias e dos tapas que levei na cara por sugerir as amigas que tive lá pelos treze, quinze anos estavam “radiantes” naquele dia.
Tempos em que minha vida girava em torno da escola e da igreja onde nos reuníamos aos domingos e cuja turma insistia em dançar num sábado na casa do Seu Geraldo e da Dona Edméia, no outro na casa do Nivaldo Panetone.
Quando se conseguia dançar de rosto colado com alguém aquilo era assunto para uma, duas semanas.
Deus abençoe os Beatles e a revolução que eles geraram.
Viva 1968.
Os decotes aumentavam, as saias diminuíam e vivíamos a intensa expectativa do encontro triunfal!
Os tempos evoluíram e hoje estou muito diferente, marcado pelas passagens da vida.
Graças a Deus consigo cultivar minhas boas memórias, todavia me aborrece as marcas das tristezas que, apesar de terem sido em menor número, deixei que ganhassem uma relevância enorme, besta e inútil.
Não sei muito bem ainda o que isso possa significar, mas estou em fase de análise das mágoas.
Está difícil!
Tenho como balizamento o grande ícone da igualdade racial e social americana Medgar Evers que dizia a sua mulher Myrlie: “não adiantar ter mágoa ou raiva de alguém por que certamente aquela pessoa não estaria se importunando ou importando com o fato”.
Ou Lalo Cobalchini que apregoa "não podermos alterar nosso passado, então nos aproveitemos dele".
Quanta bobagem se guarda no coração a troco de nada.
É certo que o cotidiano nos brinda com surpresas nada agradáveis muitas vezes tão intensas que eclipsam até mesmo grandes alegrias.
Vamos supor uma pergunta a um amigo: Como foram seus 20 dias de viagem, por exemplo, pela Sibéria?
É comum que a resposta seja: “Uma maravilha! O vôo foi excelente, comida boa a bordo, receptivo fantástico, um trem maravilhoso, hotel soberbo...
É nessa pausa que vem meu medo; aí ele reporta uma coisa que não o agradou: digamos que seja a dobradura dos lençóis na Rússia.
São normalmente vários minutos - três, quatro vezes o tempo que gastou falando das oitocentas coisas boas que teve na viagem – narrando aquele único problema que teve na viagem.
Não consigo entender essa situação e creio que só mesmo uma divindade para me explicar o que acontece.
Outro exemplo: O Santos está uma verdadeira droga! Tempos tristes, ou como diria Elizabeth II: “annus horribiles”.
Estava perdendo de dois a zero do Botafogo (!!!) e conseguiu empatar a partida.
Meu Deus, por que eu fiquei tão chateado com o gol perdido no final do jogo que poderia nos ter dado a vitória que não vem a dez jogos?
Embora não seja religioso, não sou descrente e, certamente vou fazer a Deus algumas perguntas caso possa encontrá-lo na eternidade.
Sinceramente gostaria que Ele me fizesse entender alguns mistérios, digamos assim.
Senão vejamos:
1) Como é essa história de três em um na Santíssima Trindade que me incomoda desde minhas aulas no catecismo aos oito anos de idade;
2) Por quê o caroço do abacate é tão grande?
3) Quais são as misteriosas razões pelas quais a Fafá de Belém não canta mais com a voz idêntica a da Gal Costa?
4) Por quê, meu Deus, o Airton Senna tinha que morrer tão moço?
5) Por que ser político honesto no Brasil foi importante só até 2002?

Preciso parar de ser ranzinza, não acham?
Aceitam um cappuccino?

Dedico esta crônica à minha amiga Lucila Pacheco.

4 comentários:

Anônimo disse...

Grande Onça, bom dia!
Muito legal.
Um grande abraço,

Brito

Anônimo disse...

Você está cada dia mais escritor.
Não deixe a mágoa turvar seus lindos olhos.Os acontecimentos nos aborrecem muitas vezes,eu sei, mas...nada melhor do que vencer esse desafio.
Um grande beijo, um grande passo de dança....e, vamos ao cappuccino?

Anônimo disse...

Arnaldo bom dia!!!!

Você se supera a cada dia!!!!
Parabéns!!!
Adoro suas crônicas!!!
beijos
Cris

Anônimo disse...

Junior do Ceagesp(Tesou). Minhas perguntas a Deus são estas:
Quanto tempo levarei para atingir as 12 virtudes de Deus?
Quanto tempo ainda irei somar para atingir as 12 qualidades do Espírito Santo?
Enquanto isso não acontece, leio o poema da luz de Madre Teresa de Calcutá e o maior poeta da luz(Jesus Cristo), creio que só assim posso elevar meu Cristo Pessoal, utilizando a palavra como caminho correto para meus pensamentos e no meu humilde coração a minha alma entrego a Deus para norteiar esses desejos.
Só assim posso carregar meu corpo de luz para viver uma vida de eternidade, Me entregando a cada manhã ensolarada das 07:00 às 08:00 como sendo a primeira hora do dia e do crepúsculo dessa aurora das 17:00 às 18:00 como a última hora do dia.
Contemplando a luz dessa estrela Sol posso me sentir como um semente dessa estrela nesse jardim amarelo me entregando ou somando a esses anjos de luz Miguel e seu filho Micah e nessa parabola amarela o que é em cima é o que embaixo, sendo assim o que existe em tu e não mais viver esse passado como Deus embrionário que não se pariu através das encarnações.
O meu livre arbitrio me entrego como uma baby da luz ou trabalhador da luz para me suceder aos presentes do dia a dia crescendo como um ser de luz sem vaidades me entregando ao hospital do amor e da caridade com os passes dos meus mudras(mãos em oração).
Um abraço a todos.