segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O sucesso de cada um...


O grande maestro brasileiro Tom Jobim disse e repetiu mais de uma vez: "Sucesso no Brasil é uma ofensa pessoal".
Eu vou um pouco mais adiante: Ofende muito mais aos intelectuais.
Quem leu um mínimo de Gilberto Freire sabe que desde tempos imemoriais o Brasil se divide entre uns poucos que tinham acesso ao conhecimento e o povo, o populacho, que ria da sua própria desgraça.
Quem não leu também sabe por que provavelmente é vítima dessa diferença.
Continuamos assim.
Uns poucos têm acesso a estudo de qualidade, muitos vindos de tradicionais famílias intelectuais e, via de regra, tem atavicamente preso aos seus corações a arrogância que são melhores que a plebe ignara.
Outros conseguem deixar a pobreza e avançam sobre a classe média, mas seus corações tinham esperança de ir muito além do salário que ganham.
De repente um desses pobres consegue fazer um grande sucesso como jogador de futebol e passa a ganhar rios de dinheiros.
Os comentários contrários, a princípio, são velados, pois como quase todos os brasileiros adoram futebol, as queixas acabam caindo num limbo, e os comentários não vão adiante.
Num momento qualquer esse "ignorante" passa da conta no álcool e bate seu carrão num poste. É o suficiente para que toda a massa intelecta se alvoroce e forneça diversos artigos com críticas à suposta falta critério na distribuição de renda e passe a idéia que esse "jogador de bola" ganhe algo desproporcional.
Agora que qualquer um – incluindo quem aqui escreve – tem um “Blog”, chovem artigos que se transforma em “e-mails” com anexos em “PowerPoint” e músicas bem melodiosas.
E inveja, muita inveja, muito veneno, muita bílis derramada.
Já ouvi de um professor universitário a incrível frase "deveria haver um limite para os salários de jogadores de futebol e cantores de pagode".
"Sim, porque também esses rapazes de vozes moles e anasaladas, calças apertadas e jeitinho de bom moço também ganham um dinheiro desproporcional cantando umas músicas imbecis e com letras e versos extremamente pobres".
É certo que um professor universitário tem que estudar durante muitos anos, não pode parar de ler, trabalha muito e tem um salário que eles mesmos consideram aviltante.
Vários salários de professores que conheço são mesmo baixos.
O motivo de toda essa narrativa acima foi a recepção, por três fontes diferentes, de um texto onde um professor atinge em cheio o compositor Zeca Pagodinho, criticando-o por sua participação na chamada Guerra das Cervejas.
Acredito que todos que estejam lendo conheçam a origem do Zeca Pagodinho.
Ele me remete a um conhecido cliente que eu tinha no Banco que em uma determinada ocasião vendeu no Centro de São Paulo uma rifa de um carro que ficava sobre um caminhão. Esse carro era exposto em todas as ruas no entorno da Praça da República, o papel da rifa tinha uma autorização fictícia da Receita Federal, dava a impressão que tudo era correto.
Meia hora antes do sorteio, o responsável pela rifa deu um dinheiro na mão dele e disse: “Te manda Negão!”. Todos sumiram, ele inclusive, morrendo de medo de ser preso por ter sido cúmplice de um crime que não sabia que acontecia. Passou pelo Mappin na Praça Ramos e comprou um tambor que se transformou no único brinquedo que seu filho ganhou no Natal.
Zeca Pagodinho foi convidado a participar de uma campanha publicitária de uma cervejaria que todos sabem sonegou durante décadas impostos.
Uma cervejaria que concordou em colocar no copo do Zeca cerveja Brahma, (e enganar seus consumidores), por que ele deixou claro que só tomava aquela cerveja.
Uma Cervejaria que quis usar a exata imagem que tem o Zeca Pagodinho por que, certamente, se colocasse a imagem daquele professor que o criticou não teria o mínimo retorno.
O tiro dado por esse senhor atingiu, como de hábito, o lado fragilizado da história. E deixou de fora sonegadores e impostores, enganadores.
Estou sendo muito severo?
Ora, quem pode acreditar em propaganda de Cerveja e Cremes para Cabelos? Ou outros mais?
Em que bar ou praia no mundo você um dia encontrou aquela mulherada pelada, ou rapazes pelados, na propaganda de cerveja.
Você já viu alguma mulher andando com o cabelo esvoaçando em ondas, de um lado para outro, em algum centro de compras, cinema, teatro, corredor de faculdade ou aí no seu trabalho?
A critica desse professor foi para desmoralizar e arrasar com a imagem de um bom artista, de muito sucesso, compositor de canções extremamente populares, no sucesso e nos versos.
Já fizeram isso uma vez com o Gerson, Jogador de futebol que foi vítima de uma campanha publicitária extremamente mal feita, horrorosa o suficiente para nos fazer esquecer que a vitória do Brasil na Copa de 70, quando o país mais uma vez abandonou seu complexo de vira-latas, saiu de sua canhotinha.
Está na hora de fazermos as críticas, aos temas, aos comportamentos, e não às pessoas.
Personalizar uma crítica e atingir uma única pessoa e não atingir os culpados.

02/fevereiro/2008

4 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que o letrado esqueceu de considerar a brutal diferença dos valores que faziam parte da vida do cantor, antes e depois do sucesso, estrondoso, aliás.
Acredito que Zeca foi sincero o tempo todo e só se deu conta do seu valor como artista após a repercussão de sua mudança de lado na Guerra das Cervejas.
Provavelmente a Cervejaria abandonada deve ter pago uma ninharia perto do que foi oferecido pela concorrente.

Anônimo disse...

Oi.
Sou Ingrid e achei muito apropriado seu comentário.
Sou professora universitária e gostaria de usar seu texto em minhas aulas.
O Senhor autoriza?
Ingrid Werner

Anônimo disse...

Olá Ingrid!

Grato pela agradável surpresa.
Pode fazer uso do texto ou textos, com a tradicional citação à fonte.

Gostaria que você matasse uma curiosidade: qual disciplina você leciona?

Abraços
Arnaldo

Anônimo disse...

Grata por sua resposta.
Sou professora de Filosofia e dou aulas em UniPorto.
Ingrid